domingo, outubro 24, 2010

"O menor dos males será a votação do Orçamento"



GENTE QUE CONTA - Manuel Alegre

"Se fosse presidente, teria convocado o Conselho de Estado. Teria convocado os partidos políticos antes de eles se desentenderem. Teria convocado os parceiros sociais, sindicatos e associações patronais. Teria tentado promover uma concertação, política e social. (...) E teria tentado sensibilizar chefes de Estado, governos e instituições estrangeiras. (...) Há situações em que o Presidente da República deve pronunciar-se, não pode ser só um gestor de silêncios. (...) Tem havido uma certa falta de comparência do Presidente da República"

No preciso momento em que o PS e o PSD estão sentados à mesa a tentar viabilizar um acordo sobre o Orçamento do Estado, em nome do centro político em que o País tem vivido, Manuel Alegre quer precisamente fazer vingar a tese de que as próximas eleições presidenciais serão disputadas entre um candidato da direita, Cavaco Silva, e um candidato que representa a esquerda, ele próprio. Não é fácil - sobretudo quando tem de se admitir, como o próprio Manuel Alegre, com incomodidade, que, apesar de tudo, o País precisa de um Orçamento, mesmo que ele não possa ainda fazer a aposta que se desejaria, na economia e no crescimento. Apertado entre as opções do Bloco de Esquerda e as do PS, o candidato desvaloriza as divergências profundas entre os dois partidos que o apoiam e procura fazer um foco na sua candidatura, que segundo ele continua tão independente como há quatro anos.

O ministro Teixeira dos Santos não se cansa de repetir que este é o Orçamento do Estado de que o País necessita. Concorda?

Este é um Orçamento que me custa, e acho que vai custar a todos os portugueses, sobretudo aqueles a quem vão cortar salários, congelar as pensões, diminuir as bolsas.

Compreende essas linhas gerais do Orçamento?

É impossível separar estas linhas gerais do Orçamento dos nossos próprios problemas e também daquilo que se passa na Europa, da linha de austeridade que está a ser imposta neste momento pela Alemanha aos países que têm as dificuldades que temos.

Recebemos essas indicações lá de fora?

Recebemos! Aquilo que mais me choca neste momento é que somos um país que está a perder a independência. Não temos autonomia de decisão! Aqueles que andaram nos campos de batalha a defender a independência nacional nunca pensaram que lhes podia aparecer um dia um inimigo chamado mercados financeiros. Mercados financeiros, Banco Central Europeu, empresas de rating. De facto, não temos praticamente autonomia de decisão. Agora, acho que uma coisa é a consolidação das finanças públicas, rigor nas finanças públicas - isso é indispensável, e temos de o fazer e de diminuir o endividamento. Outra coisa é resolvermos o problema da nossa economia. Isto não é só finança. Tem de haver crescimento, tem de haver uma mudança de paradigma, tem de haver investimento de muito maior qualidade - como sublinhava, aliás, o dr. Santos Silva numa entrevista -, que acrescente valor, na inovação, etc.

Que não haverá nos próximos tempos...

Não vai haver. Portanto, vai haver recessão. E, se vai haver recessão, a recessão é capaz de trazer mais recessão. E se calhar depois disso é preciso haver o PEC IV ou V...

Se estivesse na Assembleia da República, como votava o Orçamento ?

Mas não estou na Assembleia da República, sou candidato a Presidente da República. Posso dizer o que teria feito se fosse presidente da República e que acho que não foi feito.

E o que teria feito?

Primeira coisa, teria convocado o Conselho de Estado.

Logo?

Estamos numa situação muito complicada. Sou membro do Conselho de Estado(1), não costumo dizer ao Presidente da República quando é que ele deve ou não convocá-lo, mas, se fosse presidente, teria convocado o Conselho de Estado. Teria convocado os partidos políticos antes de eles se desentenderem.

Mais cedo?

Mais cedo. Teria convocado os parceiros sociais, sindicatos e associações patronais. Teria tentado promover uma concertação, política e social. E teria tentado sensibilizar, coisa que não sei se o Presidente fez - mas se fez não deu nota pública disso -, sensibilizar chefes de Estado, governos e instituições estrangeiras, porque Portugal foi tratado injustamente, e mesmo algumas empresas de rating, de notação, trataram injustamente o País. Portanto, teria tido uma posição mais activa e provavelmente ter-me-ia mesmo deslocado a países estrangeiros. Se o Presidente vai a Angola - e fez muito bem em ir a Angola - acho que a situação exigia que fosse a França e que fosse à Alemanha, porque há neste momento uma deslocação do centro do poder na Europa.

Porque acha que o Presidente não o fez, não se envolveu tanto?

O Presidente da República muitas vezes - ainda ontem estive a ver uma coisa que anda aí no YouTube - diz "eu não me pronuncio", ou "o Presidente da República não se pronuncia". Mas há situações em que o Presidente da República deve pronunciar-se, não pode ser só um gestor de silêncios. Houve agora esta decisão da senhora Merkel e do Sarkozy, que é uma subversão dos tratados europeus, dizendo que vão punir politicamente os países que estiverem em incumprimento de dívida quando eles próprios já estiveram nessa situação. Aí está uma situação que justificava também uma tomada de posição do Senhor Presidente.

É preferível, nesta conjuntura que vivemos, ter um mau Orçamento ou não ter Orçamento nenhum?

Essa é uma pergunta que eles vão ter de decidir. Este Orçamento tem as consequências que sabemos e que foram ditas num debate da Assembleia. Ouvimos o próprio dr. Silva Lopes, que é uma pessoa conceituada, pessimista e tal, mas tem tido um papel sempre positivo nas questões portuguesas, o dr. Alberto Reis, etc., dizendo que um país não aguenta dez anos de recessão. Não aguenta! Não haver Orçamento, na situação em que estamos, vai levar a uma situação parecida ou pior.

Portanto, pesando tudo, gostaria que o Governo tivesse Orçamento do Estado?

Eu, na situação em que estou, tenho dificuldade em dizer. Acho que há dramatização a mais. Mas a reunião do PSD, as condições que são postas... Dá impressão que há ali uns sinais de abertura para a viabilização do Orçamento.

E, tudo pesado, é disso que o País precisa neste momento?

O País precisava de um outro tipo de Orçamento! O País precisava de crescimento económico.

Mas só vai ter este ou nenhum...

Pois não, mas é terrível.

Perdoe-me a insistência: perante este cenário, o que aconselharia?

Tenho dificuldade em dizer. Não estou a fazer isto por qualquer jogo, tenho dificuldade porque acho que as consequências deste Orçamento vão ser muito dolorosas para os portugueses. E a ausência de um Orçamento pode agravar, de facto, a pressão especulativa sobre Portugal e trazer consequências piores ainda.

E portanto...

Portanto? Mas isso é uma decisão que não sou eu que vou tomar. A posição do Governo é conhecida! Eu, como português, penso que porventura o menor dos males será a votação do Orçamento. É o menor dos males.

Deixa-o desiludido o facto de o PS não conseguir negociar este Orçamento do Estado com forças à sua esquerda?

Tenho pena. Mas nisso a responsabilidade não é só do PS, também é dos outros. Há aqui visões muito diferentes da sociedade, da Europa. Portugal está na União Europeia (EU), assumiu, bem ou mal, compromissos com a UE, e os compromissos são para cumprir. As posições dos outros partidos da esquerda são diferentes. O PCP tem uma posição, a do Bloco de Esquerda não é exactamente a mesma. Estes partidos não têm a mesma visão da governação nem a mesma visão do que é ou deve ser a UE, ou do que é ou deve ser a posição de Portugal na UE. Portanto, era difícil. Embora tenha havido situações no passado, mesmo em alturas de grande tensão, em que houve negociações. Recordo-me do PCP, já não sei há quantos anos, ter, por abstenção, viabilizado um Orçamento do PS.

Diz que consigo na Presidência não haveria banqueiros(2) a mediar o Orçamento. O que quis dizer com isso?

Quis dizer isso mesmo. Estamos nesta situação porquê? Porque o Estado, aliás, os Estados europeus, mas o Estado português também, endividaram-se muito para garantir o sistema financeiro. Gastámos quatro mil milhões logo no BPN. E a banca não contribuiu: beneficiou, quando foi responsável de grande parte desta dívida pública em que nos encontramos. Os Estados membros da União Europeia tiveram de salvar o sistema financeiro, tiveram de gastar ainda muito dinheiro para atenuar os efeitos da crise, e agora a banca aí está outra vez a ditar as regras. Eu sei que a banca está também aflita e em estado de necessidade porque tem um problema de financiamento no estrangeiro, mas há independência do poder político em relação ao poder económico. É uma questão de pudor e de recato. Agora a maneira como isto foi feito... Os bancos vão ao Presidente da República, os bancos vão ao Governo, os bancos vão aos partidos, ao principal partido da oposição. Por estado de necessidade ou não, mas não são eles que vão ditar as regras do jogo ou sobrepor-se à decisão dos órgãos legítimos democráticos. Temos falado muito da dívida pública e muito pouco do endividamento privado!

Que é maior...

Que é maior, é o dobro! E também aqui o Artur Santos Silva, que volto a citar, diz: "Quando nós entrámos para o euro, não interiorizámos o que isso significava." Quando digo nós, é nós todos: cidadãos, empresas, o Estado, os bancos - ele não fala dos bancos, mas os bancos também - não interiorizaram! Não tiveram em conta o juro primário, e depois as pessoas puseram-se a gastar, a gastar... A banca privada fomentou uma publicidade agressiva, fomentou um consumismo desbragado. É o compra-se agora e paga-se depois no privado e no público que nos levou a esta situação. E deviam também ser tomadas algumas medidas para combater o endividamento privado e o papel dos bancos, que têm responsabilidades nisto. Os bancos e os cidadãos.

O que faria se fosse presidente da República (PR) e o Orçamento fosse chumbado?

O PR aí não tem grandes hipóteses.

José Sócrates já disse que não teria condições para governar, insinuou que apresentaria um pedido de demissão. O que poderia aí o PR fazer?

Pode conversar, pode moderar. Olhe, ouvi na TSF uma estranha entrevista do meu amigo e colega do Conselho de Estado António Capucho, que sobre a questão do Orçamento e da mediação entre o PS e o PSD propunha o dr. Ernâni Lopes, o Artur Santos Silva e o Guilherme de Oliveira Martins, como mediadores. Então e o Presidente da República? Onde está a capacidade de moderação e de mediação do Presidente da República? Acho que tem havido uma certa falta de comparência dele. Respeito-o, considero-o um homem honrado, tem as suas visões. Mas isto é um problema político, e tem havido uma certa falta de comparência. Numa situação destas, não me parece que o Orçamento vá ser chumbado, mas tudo pode acontecer. Qual é o papel do Presidente? Não é ter um programa próprio! É o papel de moderador, de árbitro! E aí o Presidente interpretou mal, em meu entender - disse-lhe isso no primeiro debate que tivemos sobre os poderes presidenciais -, a cooperação estratégica, que tem subentendida a partilha das definições da linha do Governo, e que deu naquilo que deu. E também da vigilância sobre a situação financeira! O próprio dr. Nogueira Leite disse que nesse aspecto o Presidente falhou. Ele é economista, é professor de Finanças, criou a ilusão de que por tudo isso ia resolver... Mas chegámos a esta crise, e aquilo em que o Presidente poderia ter sido útil, nessa vigilância, no ter tido uma intervenção aqui e lá fora...

Segundo a sua opinião, não o fez?

Não o fez.

O que pensa das condições apresentadas esta semana pelo PSD para viabilizar o Orçamento? Há um recuo nos impostos...

Pois, há um recuo nos impostos, com os títulos da dívida pública...

É uma boa base de trabalho para conseguir o entendimento?

Penso que é uma base de trabalho que o Governo poderá - mas não me quero substituir ao Governo - considerar. Sobre o IVA e as parcerias público-privadas penso que será mais complicado. Sobretudo os 2% do IVA implicam mil milhões de receita, ficava a receita reduzida a metade, e isso ia estragar as contas todas. Penso que é difícil, mas não queria entrar nessa discussão.

As despesas do Estado social têm muito a ver com a situação financeira a que o País chegou?

O Estado social é a nossa garantia. Ponho- -lhe esta questão: imagine que estávamos numa situação destas, com um Orçamento destes ou com um chumbo de um Orçamento destes, em que as pessoas teriam de pagar a escola, ao médico só poderiam ir se tivessem seguro...

Mas a questão não é o Estado social, é a dimensão do Estado social. Aí há alguma coisa a fazer?

Só agora estamos a aproximar-nos da dimensão média dos países da OCDE, que é 21%, 22%. Estamos a 20%, se não me engano, do produto interno bruto.

No próximo dia 24 de Novembro vai haver uma greve geral, coisa que não acontece há 22 anos. Vai fazer greve nesse dia?

Não faço greve, não é? (risos)

Compreende os motivos dessa greve?

Compreendo. É um facto sindical, político e democrático novo. As duas centrais têm tido dificuldade de convergência e de entendimento, e agora apresentaram as duas juntas o aviso prévio. Acho que os sindicatos têm um papel muito importante, como têm os outros parceiros sociais! Sou favorável à concertação social e ninguém tem falado com eles. Andam os banqueiros, mas ninguém fala com os sindicatos e ninguém fala com os parceiros sociais. Deveria ouvir-se os trabalhadores, respeitar os trabalhadores e ter em conta que é uma greve geral pelas duas principais centrais sindicais. Noutras situações e noutros tempos, isso seria uma coisa tremenda. Hoje liga-se menos, hoje essas coisas valem menos do que valiam. Mas acho que valem muito, que é preciso ouvir a voz dos sindicatos, a voz da rua e a voz dos trabalhadores. Eles representam milhões de trabalhadores que são aqueles que mais vão sofrer com esta crise, e é preciso pensar nas pessoas. E estou, política e democraticamente, do lado desses.

(1) Conselho de Estado - Órgão consultivo do Presidente da República, que este tem de ouvir antes de destituir o Governo, dissolver o Parlamento ou fazer declarações de guerra e paz

(2) Banqueiros - Presidentes da CGD, do BCP, do BPI e do BES reuniram-se com o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, e depois com Teixeira dos Santos, alertando para o risco da degradação do 'rating' do País

Professores podem aprovar hoje novas acções de luta



Congresso

Segunda maior estrutura docente, a FNE, vai reeleger líder Dias da Silva. Novos protestos contra cortes em cima da mesa

O congresso da Federação Nacional da Educação (FNE), que termina hoje em Aveiro com a reeleição de João Dias da Silva como secretário-geral, deverá deixar já indicações sobre as novas batalhas que a estrutura está disposta a travar contra os cortes que afectam os professores.
Ao DN, Lucinda Manuela, da direcção da FNE, disse que o primeiro dia serviu para discutir "a estratégia para os próximos quatro anos", mas considerou "provável" que hoje "surjam propostas de acções de luta" além das já confirmadas participações na manifestação e greve geral de Novembro.
Na passada quinta-feira - depois de uma reunião em que o Ministério da Educação confirmou o congelamento das progressões e do ingresso de professores nos quadros -, Mário Nogueira, da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), também admitiu o regresso das "lutas sectoriais" dos docentes que marcaram a era de Maria de Lurdes Rodrigues na Educação.
O congresso da FNE teve como convidado o secretário de Estado adjunto e da Educação, Alexandre Ventura, que, numa interrupção dos trabalhos, confirmou à Lusa ser "completamente irreversível" a decisão de não realizar em 2011 o concurso para ingresso nos quadros de milhares de professores com muitos anos de contrato.
Uma decisão que, na sua intervenção de abertura, Dias da Silva considerou "injusta, inoportuna e inadequada", sustentando que o concurso iria permitir "atenuar as injustiças que decorrem da impossibilidade que os então professores titulares tiveram de concorrer e ainda diminuir o nível de precariedade que envolve hoje muitos milhares de docentes".
"Não deixaremos de tudo fazer no campo da nossa intervenção político-sindical para que a solução seja outra", declarou o responsável. "Não admitimos que depois do PEC III, venha o PEC IV ou o PEC V", avisou ainda, desafiando o Governo a dar provas de que "ele próprio elimina desperdícios e vive a austeridade que está a impor" aos cidadãos.

Portas vota contra e sai da foto do Orçamento



CDS-PP

Líder centrista decidiu ir contra o Orçamento depois de o PSD abrir negociações com o Governo. Mas evitou críticas a Passos

O presidente do CDS-PP anunciou ontem o voto contra do partido à proposta de Orçamento do Estado para 2011. Fê-lo sublinhando que "preza a coerência". Foi o mais longe que se permitiu ir na crítica a Passos Coelho - todas as outras críticas seguiram direitas para Sócrates e seu Governo.
Paulo Portas, sabe o DN, só decidiu o sentido de voto da bancada depois de Passos Coelho ter anunciado que partiria para conversações com o Executivo. Antes, o líder centrista deixou margem para outra hipótese: uma abstenção PSD/CDS, em conjunto, mas sem negociações de qualquer espécie. No fundo, Portas estava disposto a seguir as recomendações de todos os mais próximos de Cavaco Silva: viabilizar o OE 2011, mas deixando o ónus inteiro para Sócrates. O que não estava disposto a fazer, garante fonte da direcção do partido, era viabilizar sozinho (no caso de o PSD não fazer acordo), como chegou a sugerir António Lobo Xavier. Até porque isso implicaria um voto favorável dos seus 21 deputados. Para evitar qualquer pressão nesse sentido (na hipótese improvável de as reuniões entre Catroga e Teixeira dos Santos não levarem a bom porto), Portas disse já que vota contra.
Quanto à argumentação, nenhuma surpresa. "O CDS preza a coerência e é penhor de uma alternativa. Não estamos dispostos a negar tudo o que pensamos, a negar tudo o que fazemos e a negar tudo o que dizemos", afirmou ontem Portas, acrescentando que o voto contra será "um não de direita" a uma política em que já não acredita.
Na conferência de imprensa, Paulo Portas considerou "óbvio que o PS e o PSD vão viabilizar o Orçamento para 2011, pela simples razão de que os dois partidos acordaram o PEC I e o PEC II". Isso, "evidentemente, tem consequências", sublinhou. Na verdade, a expectativa entre os centristas está, agora, em saber quando Passos Coelho está disposto a romper a corda com o Governo. Sendo certo que as relações entre os dois partidos se estreitaram nos últimos meses.
O líder centrista fez ainda uma análise muito negativa de um OE que "pode levar à recessão. Ora eu, que disse ao primeiro-ministro para sair, não vou certamente votar de modo a que ele fique", explicou Portas.
"Se amanhã o primeiro-ministro vier dizer que a oposição não teve coragem para o mandar embora, eu quero poder dizer que votei em conformidade com um primeiro-ministro em que não acredito", frisou ainda.
Para o CDS, a proposta orçamental não controlará o endividamento, aumentará o desemprego e empobrecerá a classe média, "atacando os mais vulneráveis, os idosos e os mais pobres, mas deixa as empresas públicas à solta".

Acordo improvável antes de Cavaco anunciar recandidatura



Negociação para o Orçamento de 2011

Primeira ronda durou 04.30. Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga salientaram "espírito construtivo" no diálogo. Para já, falou-se de cortes na despesa. E uma frase do ministro irritou o PSD

Eduardo Catroga, chefe da delegação do PSD, disse ontem à saída da primeira ronda negocial com o Governo sobre o OE 2011 que "seguramente ao longo da próxima semana" perceberá se um acordo é ou não possível. Por ora não faz previsões: "É prematuro dizer se haverá fumo branco ou preto."
Segundo o DN apurou, é improvável que um acordo, a ser obtido, o seja antes de terça-feira, o dia do anúncio da recandidatura de Cavaco Silva. Eduardo Catroga é uma figura muito próxima do Presidente (foi seu ministro das Finanças entre 1993 e 1995 ), mas ontem, questionado pelos jornalistas, garantiu que estava nas negociações "exclusivamente" mandatado pela direcção do PSD.
A pressa dos sociais-democratas em fechar este processo (pela manhã admitia-se até a hipótese de tudo estar fechado hoje) choca com um ritmo mais lento do Governo. "A pressa pode ser prejudicial", disse ao DN uma fonte governamental. Há tempo: a votação na generalidade do OE 2011 só terá lugar dia 4 de Novembro.
O acordo, acrescentou o chefe da delegação social-democrata, nunca incluirá mais do que a abstenção do PSD (ou seja, nunca o voto favorável). "Este será sempre um mau Orçamento. O nosso objectivo é atenuar os seus aspectos mais gravosos para as famílias e para as empresas", disse.
Segundo as fontes do DN, em nada do que divide as duas partes houve algum acordo. Discutiram--se, sobretudo, as propostas que Catroga levou para a reunião - sem que o Governo tenha dado uma ajuda. O problema essencial é o IVA, que o Governo quer aumentar em dois pontos percentuais. O PSD, pelo seu lado, quer diminuir este aumento e, ao mesmo tempo, colocar o cabaz alimentar nos escalões mais baixos.
Do encontro de ontem, que durou quatro horas e meia (entre as 15.30 e as 20.00, com um pequeno intervalo pelas 19.00), ficaram também informações desencontradas sobre um "pedido de informações adicionais" que Teixeira dos Santos revelou ter solicitado. As Finanças afirmam que foram informações solicitadas ao PSD; os sociais- -democratas garantiam, minutos depois, que foram informações solicitadas pela delegação do PSD ao Governo. Hoje será o segundo round: no mesmo sítio (Parlamento), mas a uma hora diferente: 17.00.
Os chefes das duas delegações saíram do encontro garantindo o espírito "construtivo" em que decorreu - usando precisamente a mesma expressão em separado. "Houve uma análise muito franca e profunda em torno das variáveis--chave da política orçamental portuguesa, não só no plano imediato, para 2011, mas também para contribuir para a sustentabilidade das finanças públicas a prazo", disse Eduardo Catroga, levantando outro tema da reunião: a suspensão das PPP e grandes obras.
Já o ministro das Finanças recordou, implicitamente, que o PSD num primeiro momento recusou negociar o OE 2011. "É importante que o PSD tenha acedido a sentar-se à mesa para uma conversa."

Pivô da RTP apresenta novo livro em família



Lançamento

'O Anjo Branco'. José Rodrigues dos Santos recordou o pai, que inspirou o seu último romance histórico

Foi uma autêntica reunião familiar, o lançamento do novo livro de José Rodrigues dos Santos, O Anjo Branco. Apresentado ontem, na Sociedade de Geografia, em Lisboa, o pivô da RTP contou com a presença e o apoio da mulher, Florbela, da mãe, Manuela, do irmão, João, dos três jovens sobrinhos e do primo Carlos. "Estou emocionado neste dia, com a forma como a sala encheu", começou por afirmar o jornalista e escritor, perante as cerca de 500 pessoas que praticamente esgotaram a sala de apresentação.
O Anjo Branco, o romance inspirado na vida e obra do seu pai, José Paz Rodrigues dos Santos, um dos médicos responsáveis pela assistência sanitária à população de Tete, em plena Guerra Colonial, foi o ponto de partida para ontem recordar o seu pai. O factor familiar está, de resto, presente no livro, uma vez que as personagens foram inspiradas em vários familiares do jornalista.
"Para quê inventar uma história, se tenho na minha família uma extraordinária? Um romance vive das pequenas histórias que não podemos encontrar nos livros de História", questionou José Rodrigues dos Santos, enquanto mostrava várias fotografias de criança, com o seu pai, tiradas em Moçambique, na década de 60.
A cargo da apresentação do livro de 678 páginas esteve Joaquim Furtado, colega mas também grande amigo do escritor. "O Joaquim foi o primeiro director de informação que tive, que tomou sempre a escolha certa", afirmou. José Rodrigues dos Santos não deixou, no entanto, de criticar a estação pública durante a apresentação. "Na RTP, o Joaquim nunca foi valorizado. Deve-lhe uma homenagem e esta é a minha", acrescentou ainda.
Joaquim Furtado, o autor da série documental da RTP A Guerra, retribuiu as palavras elogiosas. "Esta é uma reflexão sobre a ética humana e a moral. O José trabalha na verdade e na verosimilhança, que são as bases para um bom romance histórico", afirmou o pai da apresentadora da RTP Catarina Furtado.
Durante o lançamento do livro, foram ainda mostradas as primeiras imagens dos cadáveres do massacre no Wiriamu, episódio abordado nesta obra.
Presentes no lançamento do livro estiveram também actriz Marta Furtado, filha de Joaquim Furtado, e Rita Marrafa de Carvalho, jornalista da estação pública, que deu o pontapé de arranque, ao ler um dos excertos do romance.

Elevador da Glória faz 125 anos e ainda surpreende



Lisboa

De manhã ajuda a subir e a descer a íngreme calçada de quem vai para o trabalho. À tarde é 'tomado' por turistas e curiosos

"Olhe, se o que desce puxa o que sobe, isto nem precisa de motor, pois não?" A voz era de uma criança de nove anos, mas o conteúdo da pergunta não. Carlos Francisco, guarda-freio no ascensor da Glória, sorriu, olhou para trás e adaptou a resposta ao jovem: "Se fosse assim como é que travávamos?!" Nesse momento, o elevador tinha acabado de iniciar a descida e a criança permanecia imóvel, sem tirar os olhos dos carris.
Apesar de ser véspera da comemoração dos 125 anos, o dia de ontem foi aparentemente normal, neste funicular centenário de Lisboa. De manhã, as viagens com as pessoas do costume, que se deslocam para o trabalho. À tarde, a enchente turística de sempre.
No interior do transporte, vários cartazes anunciavam que hoje haveria brindes para os utilizadores, como forma de celebrar o aniversário. No entanto, o aviso, que passou despercebido à maioria das pessoas, não especificava quais seriam as ofertas.
"Durante a manhã [de ontem], houve só um turista que olhou muito sério para o cartaz e depois disse-me: 125 anos? Então, estou a andar num museu com rodas!", riu-se Celeste Grencho, a primeira mulher guarda-freio do País.
A funcionária da Carris lembra que, apesar de ser importante continuarmos a conservar a tradição nestes elevadores, o País não pode deixar de apostar em novos transportes, como o eléctrico articulado, que também elevam a imagem do País. "Sinto que muitas vezes os turistas ficam de boca aberta, quando chegam cá e vêem que temos uma rede de transportes evoluída", refere Celeste Grencho, salientando que "são muitos os que apontam Portugal como o País europeu com melhor articulação de transportes para turistas".
Há mais de uma centena de anos a ligar a Praça dos Restauradores ao Bairro Alto, o elevador da Glória é, actualmente, um transporte para os habitantes da cidade e um ponto obrigatório para quem visita a capital. Nos últimos anos, o característico transporte lisboeta foi-se adaptando aos novos tempos. Porém, se não conseguiu ainda ser olhado pelos mais novos sem surpresas, também não pôs fim aos hábitos dos mais velhos.
"Os mais velhos, às vezes, abrem a porta e saem em andamento", refere Carlos Francisco, explicando "que sempre que isso acontece fazem-no sem pedir autorização ao guarda-freio, porque sabem que este não deixa".
A viagem das 13.30, de ontem, tinha chegado ao fim, após poucos minutos de descida, a criança - Pedro Dias - continuava a falar sobre a mecânica do ascensor. "Mãe, estou a ver agora o cabo que o senhor disse lá dentro", gritou.
Luísa Rocha sorriu, e, emocionada, explicou, ao DN, que o interesse já era de família: "O meu avô era guarda-freio do eléctrico 28, daí trazer cá o meu filho, às vezes. Sei que ele vibra com isto."

quinta-feira, outubro 21, 2010

PS admite "abertura" para produtos com IVA a 23%



oe2011

O líder da bancada parlamentar socialista, Francisco Assis, manifestou "abertura" para uma discussão na especialidade do Orçamento do Estado (OE) sobre os produtos que serão taxados com IVA a 23 por cento.

"É uma discussão que se vai agora iniciar, haverá discussão na especialidade. As propostas de Orçamento do Estado nunca são absolutamente fechadas quando chegam à AR, são fechadas nas suas linhas de orientação essenciais, mas depois há um espaço para discutir e esse é um caso concreto", afirmou Assis.
O líder parlamentar do PS não se quis pronunciar sobre nenhum produto em particular mas considerou "evidente" que há nessa matéria "um espaço para algum debate e, eventualmente, para alguma tomada de decisão".
Alguns dos "pressupostos" aprovados pelo Conselho Nacional para o PSD viabilizar a proposta do Governo são que o aumento da taxa máxima do IVA não exceda os 22 por cento - ao invés dos 23 por cento propostos pelo Governo -, que se reveja a lista de bens sujeitos a esta taxa e que as deduções fiscais, em vez de serem cortadas, sejam reembolsadas em títulos da dívida pública.
"Julgo que era muito importante que nós déssemos um sinal muito claro sobre o destino do Orçamento do Estado aquando da sua discussão na generalidade. Isso era muito bom para o país e creio que, tal como nós, o PSD também entende esse sinal", afirmou o líder da bancada socialista aos jornalistas, após a reunião do grupo parlamentar.
Francisco Assis afirmou ainda não haver "nenhuma razão" para se "desistir" do compromisso com a fixação do défice em 4,6 por cento.
"O país tem compromissos internacionais, perante a Zona Euro, aos quais são sensíveis os mercados financeiros internacionais na avaliação que fazem da situação financeira do nosso país todos os dias", afirmou.
"Acho que não há nenhuma razão para estarmos a desistir desse compromisso", sublinhou.
Assis defendeu que há nas propostas apresentadas pelo PSD uma "perspectiva de um diálogo", apesar de os pressupostos sociais democratas para viabilização do OE irem "mais no sentido da diminuição da receita fiscal", sendo que, disse, "as medidas que apontam para redução da despesa ou são vagas ou têm pouco impacto no plano orçamental".
"Aquilo que eu vislumbro como a principal dificuldade da proposta do PSD é que ela não aponta no sentido de uma redução da despesa, como tinha sido anunciado pelo PSD, ela aponta no sentido de uma diminuição significativa da receita fiscal", afirmou.
"Isso, se não estiver associado a qualquer redução drástica da despesa, levaria a que se pusesse em causa o objetivo de diminuir o défice para o valor previsto", acrescentou, referindo que existe, nessa matéria "um esforço negocial a levar a cabo".
Assis disse não lhe competir "dar respostas de carácter definitivo".
"Não sou membro do Governo, não sou ministro das Finanças, isso é um assunto que deve ser tratado com a devida ponderação, com o devido recato, entre o ministro das Finanças, por parte do Governo, e o Partido Social Democrata", afirmou.
Francisco Assis, que tem vindo a fazer um apelo à contenção verbal, registou que "tem havido uma preocupação nos últimos dias por parte dos principais intervenientes políticos de não fechar as portas para negociação e para a busca de um entendimento".

Dream On - “Um musical numa viagem ao Sonho” subiu ao palco no Casino Estoril

  O 10º aniversário, da Associação Palco da Tua Arte, foi assinalado com um espectáculo cujo o título foi Dream On – “Um musical...