domingo, outubro 24, 2010

"Cunhal era fascinante, tinha uma grande cultura"



GENTE QUE CONTA - Manuel Alegre

Em tempo de campanha e pré-campanha, sobra-lhe tempo ainda para a escrita?

Em tempo de campanha é difícil, embora a escrita apareça sempre no inesperado. Costumava dizer que pode escrever-se mesmo na boca de um canhão, mas a campanha é muito absorvente. O cargo de presidente vai pôr restrições muito maiores.

Quando publicou o seu primeiro livro tinha 30 anos. Foi tarde ou foi cedo?

Tinha 29! Foi quando devia ser.

Se for eleito, pretende continuar a escrever? Acha que o País lhe daria tempo ?

Os presidentes da República têm todos escrito, publicam livros mas de outra natureza. Depende da maneira como se organiza. Conheci Mitterrand, de quem tive o privilégio de ser amigo, e ele reservava certas horas por dia para a leitura, para a escrita, para ir às livrarias, para passear...

Esse seria o seu modelo?

Bom, o Mitterrand é o Mitterrand... Mas o próprio Mário Soares, como PR, tinha muitas horas de leitura, de conviver com artistas, com poetas, com pintores.

Acredita em políticos que não tenham esse tempo?

Preocupa-me (risos). Acho que a Nação não é só economia, não é só contas. Também é esse outro lado da vida, também é o futebol, o gosto de ler um bom livro, de ver um bom filme, de ler poesia.

Quais são as figuras políticas ou intelectuais que mais marcaram a sua formação?

Figuras políticas de referência tenho aqueles homens que marcaram o imaginário da minha infância. O Churchill, o De Gaulle, são gigantes da história, o Roosevelt. Depois, o Olof Palme, homem extraordinário e verdadeiro social-democrata. Um aristocrata que era verdadeiramente um socialista...

Ainda o conheceu?

Conheci, tenho até uma fotografia com ele tirada na Suécia... (e continuando a resposta) Mitterrand, Felipe González. Depois, em Portugal, sem dúvida nenhuma o Fernando Piteira Santos. Um grande homem político, um grande jornalista, um homem que podia ter escrito muitos livros. Um dos melhores prosadores que conheci. Mas a sua intervenção como jornalista impediu-o de fazer a obra que podia ter feito. O Álvaro Cunhal, Mário Soares, Salgado Zenha foram pessoas...

Que relacionamento tinha com Cunhal?

Tive um relacionamento bastante estreito num período da minha vida. Chegámos a viver uns tempos na mesma casa.

A seguir ao seu regresso a Portugal?

Não, antes, no exílio. Depois do meu regresso a Portugal encontrávamo-nos pouco, a não ser nas recepções oficiais, porque aí houve, como sabe, posições diferentes.

Como era ele no dia-a-dia dessa vivência?

Era um homem fascinante. Um homem de uma grande cultura, muito diferente daquele ar carrancudo com que ele aparece muitas vezes em cena. Era um homem extremamente afável. Gostava de pintura, sabia pintar, traduziu livros de Shakespeare, era capaz de falar de poesia.

Teve uma educação católica. Como se relaciona hoje com a religião?

Relaciono-me bem com a religião. Havendo a laicidade que está consagrada na Constituição, cada um no seu papel, acho que a Igreja tem um papel muito importante em Portugal, sobretudo na obra social que faz. Sem muitas obras sociais da Igreja, as dificuldades de parte do povo português seriam piores ainda.

Depois de 48 anos voltou em Março deste ano a Nambuangongo, em Angola, onde esteve na Guerra Colonial. Que emoções lhe despertou esse regresso?

Sentimentos muito fortes. Tão fortes que até chorei, uma coisa que não costumo fazer em público. Pelos amigos com quem lá estive e que já cá não estão (Fernando Assis Pacheco, que já morreu)... A campa de um soldado português que estava ali enterrada e que mandei limpar...Foram períodos intensíssimos em que se vivia entre a vida e a morte, uma fronteira muito curta.

E, dos dez anos que se seguiram de exílio em Argel(1), que recordações tem desse tempo? Não acha que foi tempo perdido?

Não. Foi tempo de juventude, vi muita coisa, aprendi muita coisa, conheci também alguma gente fantástica. Em Argel nessa altura estava toda a gente que queria mudar o mundo, o Eldridge Cleaver, o Carmichael, os Panteras Negras, o Guevara, que por lá passou, os africanos, até o Cubillas, que queria libertar as Canárias.

O Nobel da Literatura foi recentemente atribuído a Mario Vargas Llosa. Foi uma decisão justa?

Foi. Desta vez foi justa e já podia ter sido há mais tempo, embora haja outros autores que possam tê-lo... O Jorge Luis Borges nunca o recebeu... Não percebo porque o Philip Roth, o escritor americano de quem gosto muito, não o recebeu...

O que matou da última vez que foi à caça?

Perdizes.

Quando viu o Benfica ao vivo a última vez?

Já foi o ano passado, este ano ainda lá não fui.

Gostaria um dia de ser recordado mais como poeta ou como presidente da República?

Eu, como poeta, vou ser recordado. Como PR, não sei... Primeiro não sei se vou ser PR e, se o for, não sei se serei recordado. Como poeta com certeza que o vou ser!

(1) Exílio em Argel - Para escapar à PIDE, Alegre refugiou-se em Argel, em 1964, onde foi locutor da rádio Voz da Liberdade e escreveu 'Praça da Canção'

"Toda a gente sabe que o PR tem andado em pré-campanha"



GENTE QUE CONTA - Manuel Alegre

Como é possível ser candidato a PR de dois partidos quando um apresenta este Orçamento do Estado (PS) e o outro (BE) declaradamente vai votar contra?

É uma boa pergunta. Mas eles estão de acordo na minha eleição como presidente, acham que sou um presidente que corresponde melhor à situação do País.

A dinâmica social que está por trás desses dois sentidos de voto não vai causar-lhe problemas no terreno?

Não. Primeiro, eles acham que posso ser um presidente mais justo, mais solidário, mais aberto, mais humanista, com uma visão política diferente, menos conservadora. Aí há uma concordância dos dois partidos. Aquilo que tenho visto no terreno - e quem for à minha sede pode comprová-lo - é que há uma excelente colaboração entre militantes do PS, do Bloco e sobretudo aqueles que estão na origem da minha candidatura, os independentes.

Quem lá está só fala da eleição presidencial, não fala de mais nada?

Não! Na minha presença, pelo menos, não.

Acredita que os eleitores vão continuar a considerar, como há quatro anos, a sua candidatura suprapartidária, agora que tem o apoio de dois partidos?

Mas é que ela é suprapartidária mesmo, não negociei nada com ninguém! Anunciei a minha disponibilidade sem dizer nada a ninguém, formalizei a minha candidatura sem pedir autorização a ninguém. Sou um homem independente, livre, penso pela minha cabeça - a minha vida responde por isso - e faço o meu discurso mesmo que desagrade às forças políticas que me apoiam. Estou aqui a dizer coisas que se calhar desagradam ao PS e outras que desagradam ao Bloco, mas digo aquilo que penso, e essa é a função de um presidente da República.

A eventual recandidatura de Cavaco Silva foi anunciada de forma inédita por Marcelo Rebelo de Sousa na televisão. Acha que foi um anúncio encomendado?

Eu anunciei a minha própria candidatura, não pedi a ninguém para a anunciar. Das duas, uma: se foi o PR que pediu ao Marcelo Rebelo de Sousa, é um facto insólito, estapafúrdio, mas nem quero acreditar nisso. Acho que isto é mais uma daquelas brincadeiras a que já nos habituou o professor Marcelo Rebelo de Sousa e que, aliás, fazem o seu encanto.

As sondagens continuam a mostrar que ainda está longe de uma vitória. Como espera inverter essa tendência favorável ao actual Presidente Cavaco Silva?

Da última vez fiquei a menos de 30 mil votos da segunda volta. Desta vez tenho vindo paulatinamente a subir - a última sondagem da Aximage já me punha 37%. Todas as sondagens, a Eurosondagem, a Aximage e Intercampus, com números diferentes, têm um mesmo sentido: o professor Cavaco Silva a baixar três ou quatro pontos e eu a subir três ou quatro. A campanha propriamente ainda não começou, andamos em pré-campanha, sobretudo o Senhor Presidente...

É por isso que acha que ele não fez, como disse no princípio desta entrevista, tanto quanto devia fazer para tentar encontrar um entendimento para o próximo Orçamento?

Não quero julgá-lo, a vida dele também não é fácil. Mas acho que ele devia ter-se concentrado mais.

No fundo, está a tentar dizer-me que o presidente da República tem estado em pré-campanha nestas últimas semanas?

Isso toda a gente sabe, os jornalistas também. O Senhor Presidente visitou praticamente todos os seus bastiões eleitorais.

Pareceu-me vê-lo vacilar aqui há uns meses, antes de o PS ter dado o apoio à sua candidatura. Não teria avançado se esse apoio lhe tivesse faltado?

Já tinha avançado.

Mas teria continuado?

Com certeza que teria continuado. Sou do PS, e alegra-me saber que o PS me dá o seu apoio. Agora, de um ponto de vista da candidatura em si, tal como estão as coisas, não sei se seria difícil, se seria mais fácil. De qualquer maneira decidi antes.

As dúvidas que o PS teve durante algum tempo têm a ver com as resistências que um histórico como o ex-PR Mário Soares colocou ao apoio do partido a si?

Não, acho que não. Tem a ver com dúvidas que são legítimas da parte de pessoas da direcção do PS, talvez por algumas marcas da última eleição. Tenho camaradas meus da direcção que reconhecem que se enganaram e que deviam ter apoiado a minha candidatura. Tem a ver porventura com alguns votos que tive na Assembleia da República ou com o meu comportamento como deputado. Mas sempre agi assim. Nunca votei nenhuma revisão constitucional! No Governo do bloco central fui eu, o Mário Cardia, que já cá não está, e outros, que votámos contra a lei de segurança interna(1). Tive nessa altura também um conflito com Mário Soares e Salgado Zenha por causa disso. Eu dizia ao Mário Soares "você não leu a lei!". Mais tarde ele num congresso disse "ainda bem que Manuel Alegre votou desta maneira porque eu realmente não tinha lido a lei". Isto é verdade, é história. Está escrito.

Já não espera o apoio desse seu antigo amigo?

Somos homens livres, vacinados e adultos, travámos muitas batalhas juntos. Isso fica à consciência de cada um. O que assinalo é que nestas coisas é preciso ter uma posição clara. Jorge Sampaio teve uma posição muito clara, não era obrigado a isso. Veio dar-me o seu apoio duas vezes, teve aquele almoço comigo sem qualquer ambiguidade, porque há momentos na vida em que temos de saber de que lado estamos. Isto vai ser uma batalha esquerda/direita, a esquerda democrática e a direita, em que está o PS de um lado, o PSD do outro. Está um candidato do centro conservador, Cavaco Silva, e um candidato de centro-esquerda e da esquerda democrática, que sou eu. É preciso saber de que lado se está. Jorge Sampaio, ex-presidente da República, disse-o claramente sem ambiguidades. Agora cada um faz o que a sua consciência lhe dita.

A esquerda parece muito dividida, a direita não avança candidato, e ao centro está Cavaco Silva. Está só ao centro ou também está à direita?

Acho que está no centro-direita. Mas porque não avança a direita com nenhum candidato?

Qual a sua tese?

Tem medo de perder. Acho que houve uma fractura, em parte, do eleitorado de Cavaco Silva por causa do voto sobre o casamento das pessoas do mesmo género. Houve ali, de facto, uma grande irritação, e não tenho dúvida nenhuma de que havia vontade... Ribeiro e Castro estava com vontade de avançar, a um certo momento creio que Santana Lopes estava com vontade de avançar.

Acha que houve negociações no sentido de travar essas tomadas de posição?

Houve uma grande pressão para travar, com medo de perderem as eleições. Porque há um risco de perderem as eleições. Cavaco Silva é o presidente que se recandidata - ele parte mais baixo.

A actual divisão da esquerda, com estas candidaturas, joga a favor ou contra si?

O Partido Comunista (PCP) apresenta sempre um candidato em todas as eleições. Umas vezes desiste, outras não. Mas acho que é útil que apresente, porque há uma parte do eleitorado do PCP que só o PCP é capaz de mobilizar.

E acharia útil que desistisse?

Sei, e costumo dizer, que nunca se perdeu uma eleição presidencial por causa do PCP. Nomeadamente, Mário Soares ganhou a segunda volta com uma extraordinária disciplina de voto do PCP, que fez um congresso extraordinário, convocado por Álvaro Cunhal. Portanto, compete-lhes a eles decidir. Quanto aos outros candidatos, tenho uma relação muito cordial com o Defensor de Moura, acho que aquilo é um problema regional, não é um inimigo nem é um adversário se ele conseguir alguns votos. Em relação ao outro [Fernando Nobre], não sei. Francamente, não sei nem quero pronunciar-me. A única coisa que digo é que nunca tive nenhum problema pessoal com ele, julguei que era uma pessoa muito cordial, mas ele desde o princípio, desde a apresentação da candidatura, sempre teve uma atitude...

Fernando Nobre?

Sim... Tem sido de uma extrema agressividade em relação a mim, não sei se em nome próprio, se em nome de alguém.

Há comentadores que conseguem ver o dedo de Mário Soares por trás da candidatura, é isso que está a tentar dizer?

Não estou a tentar dizer porque não estou lá dentro. Já li isso, há muita gente a dizer isso.

Mas acredita nessa tese?

Não quero falar disso, ponto final.

Diz também que a sua é uma candidatura de inclusão. Acredita que conseguirá ganhar votos ao centro e até um pouco à direita, que são aqueles de que precisa para ganhar as eleições?

Acredito, tenho comigo pessoas de direita. A candidatura presidencial é muito transversal, tem muito a ver com empatias ou com antipatias, e há pessoas de direita, até monárquicos, até gente do CDS e do PSD, gente que subscreveu já da outra vez a minha candidatura! Claro que é residual.

Qual o racional político por baixo dessa abrangência toda?

Em política, o factor afectivo e o factor irracional às vezes sobrepõem-se ao racional. Mas há uma lógica: vai ser um confronto entre duas visões do mundo, uma mais conservadora e outra mais à esquerda.

Acha que vai conseguir juntar José Sócrates e Francisco Louçã no mesmo palco?

(risos) Acho que não vai ser necessário. Um e outro estão juntos no apoio à minha candidatura e estão sem reservas. Testemunho isso. O importante é que eles apoiem a minha candidatura. Agora, não é preciso que estejam no mesmo palco. Quem tem estado no palco é o candidato.

(1) Segurança interna - Alegre votou contra a lei de segurança interna do Governo PS/PSD de 1983-85. Voltou a opor- -se a um diploma desta natureza em 2008

"O menor dos males será a votação do Orçamento"



GENTE QUE CONTA - Manuel Alegre

"Se fosse presidente, teria convocado o Conselho de Estado. Teria convocado os partidos políticos antes de eles se desentenderem. Teria convocado os parceiros sociais, sindicatos e associações patronais. Teria tentado promover uma concertação, política e social. (...) E teria tentado sensibilizar chefes de Estado, governos e instituições estrangeiras. (...) Há situações em que o Presidente da República deve pronunciar-se, não pode ser só um gestor de silêncios. (...) Tem havido uma certa falta de comparência do Presidente da República"

No preciso momento em que o PS e o PSD estão sentados à mesa a tentar viabilizar um acordo sobre o Orçamento do Estado, em nome do centro político em que o País tem vivido, Manuel Alegre quer precisamente fazer vingar a tese de que as próximas eleições presidenciais serão disputadas entre um candidato da direita, Cavaco Silva, e um candidato que representa a esquerda, ele próprio. Não é fácil - sobretudo quando tem de se admitir, como o próprio Manuel Alegre, com incomodidade, que, apesar de tudo, o País precisa de um Orçamento, mesmo que ele não possa ainda fazer a aposta que se desejaria, na economia e no crescimento. Apertado entre as opções do Bloco de Esquerda e as do PS, o candidato desvaloriza as divergências profundas entre os dois partidos que o apoiam e procura fazer um foco na sua candidatura, que segundo ele continua tão independente como há quatro anos.

O ministro Teixeira dos Santos não se cansa de repetir que este é o Orçamento do Estado de que o País necessita. Concorda?

Este é um Orçamento que me custa, e acho que vai custar a todos os portugueses, sobretudo aqueles a quem vão cortar salários, congelar as pensões, diminuir as bolsas.

Compreende essas linhas gerais do Orçamento?

É impossível separar estas linhas gerais do Orçamento dos nossos próprios problemas e também daquilo que se passa na Europa, da linha de austeridade que está a ser imposta neste momento pela Alemanha aos países que têm as dificuldades que temos.

Recebemos essas indicações lá de fora?

Recebemos! Aquilo que mais me choca neste momento é que somos um país que está a perder a independência. Não temos autonomia de decisão! Aqueles que andaram nos campos de batalha a defender a independência nacional nunca pensaram que lhes podia aparecer um dia um inimigo chamado mercados financeiros. Mercados financeiros, Banco Central Europeu, empresas de rating. De facto, não temos praticamente autonomia de decisão. Agora, acho que uma coisa é a consolidação das finanças públicas, rigor nas finanças públicas - isso é indispensável, e temos de o fazer e de diminuir o endividamento. Outra coisa é resolvermos o problema da nossa economia. Isto não é só finança. Tem de haver crescimento, tem de haver uma mudança de paradigma, tem de haver investimento de muito maior qualidade - como sublinhava, aliás, o dr. Santos Silva numa entrevista -, que acrescente valor, na inovação, etc.

Que não haverá nos próximos tempos...

Não vai haver. Portanto, vai haver recessão. E, se vai haver recessão, a recessão é capaz de trazer mais recessão. E se calhar depois disso é preciso haver o PEC IV ou V...

Se estivesse na Assembleia da República, como votava o Orçamento ?

Mas não estou na Assembleia da República, sou candidato a Presidente da República. Posso dizer o que teria feito se fosse presidente da República e que acho que não foi feito.

E o que teria feito?

Primeira coisa, teria convocado o Conselho de Estado.

Logo?

Estamos numa situação muito complicada. Sou membro do Conselho de Estado(1), não costumo dizer ao Presidente da República quando é que ele deve ou não convocá-lo, mas, se fosse presidente, teria convocado o Conselho de Estado. Teria convocado os partidos políticos antes de eles se desentenderem.

Mais cedo?

Mais cedo. Teria convocado os parceiros sociais, sindicatos e associações patronais. Teria tentado promover uma concertação, política e social. E teria tentado sensibilizar, coisa que não sei se o Presidente fez - mas se fez não deu nota pública disso -, sensibilizar chefes de Estado, governos e instituições estrangeiras, porque Portugal foi tratado injustamente, e mesmo algumas empresas de rating, de notação, trataram injustamente o País. Portanto, teria tido uma posição mais activa e provavelmente ter-me-ia mesmo deslocado a países estrangeiros. Se o Presidente vai a Angola - e fez muito bem em ir a Angola - acho que a situação exigia que fosse a França e que fosse à Alemanha, porque há neste momento uma deslocação do centro do poder na Europa.

Porque acha que o Presidente não o fez, não se envolveu tanto?

O Presidente da República muitas vezes - ainda ontem estive a ver uma coisa que anda aí no YouTube - diz "eu não me pronuncio", ou "o Presidente da República não se pronuncia". Mas há situações em que o Presidente da República deve pronunciar-se, não pode ser só um gestor de silêncios. Houve agora esta decisão da senhora Merkel e do Sarkozy, que é uma subversão dos tratados europeus, dizendo que vão punir politicamente os países que estiverem em incumprimento de dívida quando eles próprios já estiveram nessa situação. Aí está uma situação que justificava também uma tomada de posição do Senhor Presidente.

É preferível, nesta conjuntura que vivemos, ter um mau Orçamento ou não ter Orçamento nenhum?

Essa é uma pergunta que eles vão ter de decidir. Este Orçamento tem as consequências que sabemos e que foram ditas num debate da Assembleia. Ouvimos o próprio dr. Silva Lopes, que é uma pessoa conceituada, pessimista e tal, mas tem tido um papel sempre positivo nas questões portuguesas, o dr. Alberto Reis, etc., dizendo que um país não aguenta dez anos de recessão. Não aguenta! Não haver Orçamento, na situação em que estamos, vai levar a uma situação parecida ou pior.

Portanto, pesando tudo, gostaria que o Governo tivesse Orçamento do Estado?

Eu, na situação em que estou, tenho dificuldade em dizer. Acho que há dramatização a mais. Mas a reunião do PSD, as condições que são postas... Dá impressão que há ali uns sinais de abertura para a viabilização do Orçamento.

E, tudo pesado, é disso que o País precisa neste momento?

O País precisava de um outro tipo de Orçamento! O País precisava de crescimento económico.

Mas só vai ter este ou nenhum...

Pois não, mas é terrível.

Perdoe-me a insistência: perante este cenário, o que aconselharia?

Tenho dificuldade em dizer. Não estou a fazer isto por qualquer jogo, tenho dificuldade porque acho que as consequências deste Orçamento vão ser muito dolorosas para os portugueses. E a ausência de um Orçamento pode agravar, de facto, a pressão especulativa sobre Portugal e trazer consequências piores ainda.

E portanto...

Portanto? Mas isso é uma decisão que não sou eu que vou tomar. A posição do Governo é conhecida! Eu, como português, penso que porventura o menor dos males será a votação do Orçamento. É o menor dos males.

Deixa-o desiludido o facto de o PS não conseguir negociar este Orçamento do Estado com forças à sua esquerda?

Tenho pena. Mas nisso a responsabilidade não é só do PS, também é dos outros. Há aqui visões muito diferentes da sociedade, da Europa. Portugal está na União Europeia (EU), assumiu, bem ou mal, compromissos com a UE, e os compromissos são para cumprir. As posições dos outros partidos da esquerda são diferentes. O PCP tem uma posição, a do Bloco de Esquerda não é exactamente a mesma. Estes partidos não têm a mesma visão da governação nem a mesma visão do que é ou deve ser a UE, ou do que é ou deve ser a posição de Portugal na UE. Portanto, era difícil. Embora tenha havido situações no passado, mesmo em alturas de grande tensão, em que houve negociações. Recordo-me do PCP, já não sei há quantos anos, ter, por abstenção, viabilizado um Orçamento do PS.

Diz que consigo na Presidência não haveria banqueiros(2) a mediar o Orçamento. O que quis dizer com isso?

Quis dizer isso mesmo. Estamos nesta situação porquê? Porque o Estado, aliás, os Estados europeus, mas o Estado português também, endividaram-se muito para garantir o sistema financeiro. Gastámos quatro mil milhões logo no BPN. E a banca não contribuiu: beneficiou, quando foi responsável de grande parte desta dívida pública em que nos encontramos. Os Estados membros da União Europeia tiveram de salvar o sistema financeiro, tiveram de gastar ainda muito dinheiro para atenuar os efeitos da crise, e agora a banca aí está outra vez a ditar as regras. Eu sei que a banca está também aflita e em estado de necessidade porque tem um problema de financiamento no estrangeiro, mas há independência do poder político em relação ao poder económico. É uma questão de pudor e de recato. Agora a maneira como isto foi feito... Os bancos vão ao Presidente da República, os bancos vão ao Governo, os bancos vão aos partidos, ao principal partido da oposição. Por estado de necessidade ou não, mas não são eles que vão ditar as regras do jogo ou sobrepor-se à decisão dos órgãos legítimos democráticos. Temos falado muito da dívida pública e muito pouco do endividamento privado!

Que é maior...

Que é maior, é o dobro! E também aqui o Artur Santos Silva, que volto a citar, diz: "Quando nós entrámos para o euro, não interiorizámos o que isso significava." Quando digo nós, é nós todos: cidadãos, empresas, o Estado, os bancos - ele não fala dos bancos, mas os bancos também - não interiorizaram! Não tiveram em conta o juro primário, e depois as pessoas puseram-se a gastar, a gastar... A banca privada fomentou uma publicidade agressiva, fomentou um consumismo desbragado. É o compra-se agora e paga-se depois no privado e no público que nos levou a esta situação. E deviam também ser tomadas algumas medidas para combater o endividamento privado e o papel dos bancos, que têm responsabilidades nisto. Os bancos e os cidadãos.

O que faria se fosse presidente da República (PR) e o Orçamento fosse chumbado?

O PR aí não tem grandes hipóteses.

José Sócrates já disse que não teria condições para governar, insinuou que apresentaria um pedido de demissão. O que poderia aí o PR fazer?

Pode conversar, pode moderar. Olhe, ouvi na TSF uma estranha entrevista do meu amigo e colega do Conselho de Estado António Capucho, que sobre a questão do Orçamento e da mediação entre o PS e o PSD propunha o dr. Ernâni Lopes, o Artur Santos Silva e o Guilherme de Oliveira Martins, como mediadores. Então e o Presidente da República? Onde está a capacidade de moderação e de mediação do Presidente da República? Acho que tem havido uma certa falta de comparência dele. Respeito-o, considero-o um homem honrado, tem as suas visões. Mas isto é um problema político, e tem havido uma certa falta de comparência. Numa situação destas, não me parece que o Orçamento vá ser chumbado, mas tudo pode acontecer. Qual é o papel do Presidente? Não é ter um programa próprio! É o papel de moderador, de árbitro! E aí o Presidente interpretou mal, em meu entender - disse-lhe isso no primeiro debate que tivemos sobre os poderes presidenciais -, a cooperação estratégica, que tem subentendida a partilha das definições da linha do Governo, e que deu naquilo que deu. E também da vigilância sobre a situação financeira! O próprio dr. Nogueira Leite disse que nesse aspecto o Presidente falhou. Ele é economista, é professor de Finanças, criou a ilusão de que por tudo isso ia resolver... Mas chegámos a esta crise, e aquilo em que o Presidente poderia ter sido útil, nessa vigilância, no ter tido uma intervenção aqui e lá fora...

Segundo a sua opinião, não o fez?

Não o fez.

O que pensa das condições apresentadas esta semana pelo PSD para viabilizar o Orçamento? Há um recuo nos impostos...

Pois, há um recuo nos impostos, com os títulos da dívida pública...

É uma boa base de trabalho para conseguir o entendimento?

Penso que é uma base de trabalho que o Governo poderá - mas não me quero substituir ao Governo - considerar. Sobre o IVA e as parcerias público-privadas penso que será mais complicado. Sobretudo os 2% do IVA implicam mil milhões de receita, ficava a receita reduzida a metade, e isso ia estragar as contas todas. Penso que é difícil, mas não queria entrar nessa discussão.

As despesas do Estado social têm muito a ver com a situação financeira a que o País chegou?

O Estado social é a nossa garantia. Ponho- -lhe esta questão: imagine que estávamos numa situação destas, com um Orçamento destes ou com um chumbo de um Orçamento destes, em que as pessoas teriam de pagar a escola, ao médico só poderiam ir se tivessem seguro...

Mas a questão não é o Estado social, é a dimensão do Estado social. Aí há alguma coisa a fazer?

Só agora estamos a aproximar-nos da dimensão média dos países da OCDE, que é 21%, 22%. Estamos a 20%, se não me engano, do produto interno bruto.

No próximo dia 24 de Novembro vai haver uma greve geral, coisa que não acontece há 22 anos. Vai fazer greve nesse dia?

Não faço greve, não é? (risos)

Compreende os motivos dessa greve?

Compreendo. É um facto sindical, político e democrático novo. As duas centrais têm tido dificuldade de convergência e de entendimento, e agora apresentaram as duas juntas o aviso prévio. Acho que os sindicatos têm um papel muito importante, como têm os outros parceiros sociais! Sou favorável à concertação social e ninguém tem falado com eles. Andam os banqueiros, mas ninguém fala com os sindicatos e ninguém fala com os parceiros sociais. Deveria ouvir-se os trabalhadores, respeitar os trabalhadores e ter em conta que é uma greve geral pelas duas principais centrais sindicais. Noutras situações e noutros tempos, isso seria uma coisa tremenda. Hoje liga-se menos, hoje essas coisas valem menos do que valiam. Mas acho que valem muito, que é preciso ouvir a voz dos sindicatos, a voz da rua e a voz dos trabalhadores. Eles representam milhões de trabalhadores que são aqueles que mais vão sofrer com esta crise, e é preciso pensar nas pessoas. E estou, política e democraticamente, do lado desses.

(1) Conselho de Estado - Órgão consultivo do Presidente da República, que este tem de ouvir antes de destituir o Governo, dissolver o Parlamento ou fazer declarações de guerra e paz

(2) Banqueiros - Presidentes da CGD, do BCP, do BPI e do BES reuniram-se com o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, e depois com Teixeira dos Santos, alertando para o risco da degradação do 'rating' do País

Professores podem aprovar hoje novas acções de luta



Congresso

Segunda maior estrutura docente, a FNE, vai reeleger líder Dias da Silva. Novos protestos contra cortes em cima da mesa

O congresso da Federação Nacional da Educação (FNE), que termina hoje em Aveiro com a reeleição de João Dias da Silva como secretário-geral, deverá deixar já indicações sobre as novas batalhas que a estrutura está disposta a travar contra os cortes que afectam os professores.
Ao DN, Lucinda Manuela, da direcção da FNE, disse que o primeiro dia serviu para discutir "a estratégia para os próximos quatro anos", mas considerou "provável" que hoje "surjam propostas de acções de luta" além das já confirmadas participações na manifestação e greve geral de Novembro.
Na passada quinta-feira - depois de uma reunião em que o Ministério da Educação confirmou o congelamento das progressões e do ingresso de professores nos quadros -, Mário Nogueira, da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), também admitiu o regresso das "lutas sectoriais" dos docentes que marcaram a era de Maria de Lurdes Rodrigues na Educação.
O congresso da FNE teve como convidado o secretário de Estado adjunto e da Educação, Alexandre Ventura, que, numa interrupção dos trabalhos, confirmou à Lusa ser "completamente irreversível" a decisão de não realizar em 2011 o concurso para ingresso nos quadros de milhares de professores com muitos anos de contrato.
Uma decisão que, na sua intervenção de abertura, Dias da Silva considerou "injusta, inoportuna e inadequada", sustentando que o concurso iria permitir "atenuar as injustiças que decorrem da impossibilidade que os então professores titulares tiveram de concorrer e ainda diminuir o nível de precariedade que envolve hoje muitos milhares de docentes".
"Não deixaremos de tudo fazer no campo da nossa intervenção político-sindical para que a solução seja outra", declarou o responsável. "Não admitimos que depois do PEC III, venha o PEC IV ou o PEC V", avisou ainda, desafiando o Governo a dar provas de que "ele próprio elimina desperdícios e vive a austeridade que está a impor" aos cidadãos.

Portas vota contra e sai da foto do Orçamento



CDS-PP

Líder centrista decidiu ir contra o Orçamento depois de o PSD abrir negociações com o Governo. Mas evitou críticas a Passos

O presidente do CDS-PP anunciou ontem o voto contra do partido à proposta de Orçamento do Estado para 2011. Fê-lo sublinhando que "preza a coerência". Foi o mais longe que se permitiu ir na crítica a Passos Coelho - todas as outras críticas seguiram direitas para Sócrates e seu Governo.
Paulo Portas, sabe o DN, só decidiu o sentido de voto da bancada depois de Passos Coelho ter anunciado que partiria para conversações com o Executivo. Antes, o líder centrista deixou margem para outra hipótese: uma abstenção PSD/CDS, em conjunto, mas sem negociações de qualquer espécie. No fundo, Portas estava disposto a seguir as recomendações de todos os mais próximos de Cavaco Silva: viabilizar o OE 2011, mas deixando o ónus inteiro para Sócrates. O que não estava disposto a fazer, garante fonte da direcção do partido, era viabilizar sozinho (no caso de o PSD não fazer acordo), como chegou a sugerir António Lobo Xavier. Até porque isso implicaria um voto favorável dos seus 21 deputados. Para evitar qualquer pressão nesse sentido (na hipótese improvável de as reuniões entre Catroga e Teixeira dos Santos não levarem a bom porto), Portas disse já que vota contra.
Quanto à argumentação, nenhuma surpresa. "O CDS preza a coerência e é penhor de uma alternativa. Não estamos dispostos a negar tudo o que pensamos, a negar tudo o que fazemos e a negar tudo o que dizemos", afirmou ontem Portas, acrescentando que o voto contra será "um não de direita" a uma política em que já não acredita.
Na conferência de imprensa, Paulo Portas considerou "óbvio que o PS e o PSD vão viabilizar o Orçamento para 2011, pela simples razão de que os dois partidos acordaram o PEC I e o PEC II". Isso, "evidentemente, tem consequências", sublinhou. Na verdade, a expectativa entre os centristas está, agora, em saber quando Passos Coelho está disposto a romper a corda com o Governo. Sendo certo que as relações entre os dois partidos se estreitaram nos últimos meses.
O líder centrista fez ainda uma análise muito negativa de um OE que "pode levar à recessão. Ora eu, que disse ao primeiro-ministro para sair, não vou certamente votar de modo a que ele fique", explicou Portas.
"Se amanhã o primeiro-ministro vier dizer que a oposição não teve coragem para o mandar embora, eu quero poder dizer que votei em conformidade com um primeiro-ministro em que não acredito", frisou ainda.
Para o CDS, a proposta orçamental não controlará o endividamento, aumentará o desemprego e empobrecerá a classe média, "atacando os mais vulneráveis, os idosos e os mais pobres, mas deixa as empresas públicas à solta".

Acordo improvável antes de Cavaco anunciar recandidatura



Negociação para o Orçamento de 2011

Primeira ronda durou 04.30. Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga salientaram "espírito construtivo" no diálogo. Para já, falou-se de cortes na despesa. E uma frase do ministro irritou o PSD

Eduardo Catroga, chefe da delegação do PSD, disse ontem à saída da primeira ronda negocial com o Governo sobre o OE 2011 que "seguramente ao longo da próxima semana" perceberá se um acordo é ou não possível. Por ora não faz previsões: "É prematuro dizer se haverá fumo branco ou preto."
Segundo o DN apurou, é improvável que um acordo, a ser obtido, o seja antes de terça-feira, o dia do anúncio da recandidatura de Cavaco Silva. Eduardo Catroga é uma figura muito próxima do Presidente (foi seu ministro das Finanças entre 1993 e 1995 ), mas ontem, questionado pelos jornalistas, garantiu que estava nas negociações "exclusivamente" mandatado pela direcção do PSD.
A pressa dos sociais-democratas em fechar este processo (pela manhã admitia-se até a hipótese de tudo estar fechado hoje) choca com um ritmo mais lento do Governo. "A pressa pode ser prejudicial", disse ao DN uma fonte governamental. Há tempo: a votação na generalidade do OE 2011 só terá lugar dia 4 de Novembro.
O acordo, acrescentou o chefe da delegação social-democrata, nunca incluirá mais do que a abstenção do PSD (ou seja, nunca o voto favorável). "Este será sempre um mau Orçamento. O nosso objectivo é atenuar os seus aspectos mais gravosos para as famílias e para as empresas", disse.
Segundo as fontes do DN, em nada do que divide as duas partes houve algum acordo. Discutiram--se, sobretudo, as propostas que Catroga levou para a reunião - sem que o Governo tenha dado uma ajuda. O problema essencial é o IVA, que o Governo quer aumentar em dois pontos percentuais. O PSD, pelo seu lado, quer diminuir este aumento e, ao mesmo tempo, colocar o cabaz alimentar nos escalões mais baixos.
Do encontro de ontem, que durou quatro horas e meia (entre as 15.30 e as 20.00, com um pequeno intervalo pelas 19.00), ficaram também informações desencontradas sobre um "pedido de informações adicionais" que Teixeira dos Santos revelou ter solicitado. As Finanças afirmam que foram informações solicitadas ao PSD; os sociais- -democratas garantiam, minutos depois, que foram informações solicitadas pela delegação do PSD ao Governo. Hoje será o segundo round: no mesmo sítio (Parlamento), mas a uma hora diferente: 17.00.
Os chefes das duas delegações saíram do encontro garantindo o espírito "construtivo" em que decorreu - usando precisamente a mesma expressão em separado. "Houve uma análise muito franca e profunda em torno das variáveis--chave da política orçamental portuguesa, não só no plano imediato, para 2011, mas também para contribuir para a sustentabilidade das finanças públicas a prazo", disse Eduardo Catroga, levantando outro tema da reunião: a suspensão das PPP e grandes obras.
Já o ministro das Finanças recordou, implicitamente, que o PSD num primeiro momento recusou negociar o OE 2011. "É importante que o PSD tenha acedido a sentar-se à mesa para uma conversa."

Pivô da RTP apresenta novo livro em família



Lançamento

'O Anjo Branco'. José Rodrigues dos Santos recordou o pai, que inspirou o seu último romance histórico

Foi uma autêntica reunião familiar, o lançamento do novo livro de José Rodrigues dos Santos, O Anjo Branco. Apresentado ontem, na Sociedade de Geografia, em Lisboa, o pivô da RTP contou com a presença e o apoio da mulher, Florbela, da mãe, Manuela, do irmão, João, dos três jovens sobrinhos e do primo Carlos. "Estou emocionado neste dia, com a forma como a sala encheu", começou por afirmar o jornalista e escritor, perante as cerca de 500 pessoas que praticamente esgotaram a sala de apresentação.
O Anjo Branco, o romance inspirado na vida e obra do seu pai, José Paz Rodrigues dos Santos, um dos médicos responsáveis pela assistência sanitária à população de Tete, em plena Guerra Colonial, foi o ponto de partida para ontem recordar o seu pai. O factor familiar está, de resto, presente no livro, uma vez que as personagens foram inspiradas em vários familiares do jornalista.
"Para quê inventar uma história, se tenho na minha família uma extraordinária? Um romance vive das pequenas histórias que não podemos encontrar nos livros de História", questionou José Rodrigues dos Santos, enquanto mostrava várias fotografias de criança, com o seu pai, tiradas em Moçambique, na década de 60.
A cargo da apresentação do livro de 678 páginas esteve Joaquim Furtado, colega mas também grande amigo do escritor. "O Joaquim foi o primeiro director de informação que tive, que tomou sempre a escolha certa", afirmou. José Rodrigues dos Santos não deixou, no entanto, de criticar a estação pública durante a apresentação. "Na RTP, o Joaquim nunca foi valorizado. Deve-lhe uma homenagem e esta é a minha", acrescentou ainda.
Joaquim Furtado, o autor da série documental da RTP A Guerra, retribuiu as palavras elogiosas. "Esta é uma reflexão sobre a ética humana e a moral. O José trabalha na verdade e na verosimilhança, que são as bases para um bom romance histórico", afirmou o pai da apresentadora da RTP Catarina Furtado.
Durante o lançamento do livro, foram ainda mostradas as primeiras imagens dos cadáveres do massacre no Wiriamu, episódio abordado nesta obra.
Presentes no lançamento do livro estiveram também actriz Marta Furtado, filha de Joaquim Furtado, e Rita Marrafa de Carvalho, jornalista da estação pública, que deu o pontapé de arranque, ao ler um dos excertos do romance.

Dream On - “Um musical numa viagem ao Sonho” subiu ao palco no Casino Estoril

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