quinta-feira, dezembro 11, 2008

Lisboa: greve dos trabalhadores do lixo demonstrou "oposição" contra a câmara


Sindicatos só dialogam se privatização não for para a frente

Os dois sindicatos de trabalhadores de recolha do lixo em Lisboa fizeram um balanço positivo de greve de quatro dias, referindo que ficou demonstrada a sua “oposição” à privatização dos serviços por parte da câmara municipal.
O Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML) e o Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL) disseram que a greve ficou marcada pela "forte afirmação da capacidade de luta e de afirmação destes trabalhadores em defesa do seu posto de trabalho e do direito ao serviço público executado como tal e sob alçada total da Câmara Municipal de Lisboa (CML)".
"Esta foi uma resposta significativa ao que estava em causa, que era a exigência da manutenção de todo o serviço de limpeza, varredura e remoção sob alçada da câmara e o combate a qualquer tentativa de privatização anunciada já, numa primeira fase, para a Baixa/Chiado e a junta de freguesia de Santa Maria dos Olivais", considerou o presidente do STML, Joaquim Jorge.
Para o dirigente sindical, "os trabalhadores mostraram todo o seu descontentamento perante esta intenção do executivo camarário" e "o presidente da câmara (António Costa) terá de tirar as devidas ilações".
O presidente do STML exaltou ainda "o comportamento dos trabalhadores e a forte adesão à greve, na ordem dos 90 por cento" e espera agora que o presidente da autarquia diga como está o processo de privatização do serviço em Lisboa.
"Vamos solicitar uma reunião ao presidente da câmara nos próximos dois ou três dias, para aquilatar se, perante este protesto, mantém a intenção de avançar com o processo ou não", anunciou.

Dispostos a diálogo se privatização não avançar

Joaquim Jorge lembrou que os sindicatos querem "a suspensão total deste processo e a continuidade da exigência de munir o departamento de higiene urbana e resíduos sólidos da CML com os meios humanos e materiais necessários para continuar a fazer e desenvolver um serviço de qualidade na limpeza na cidade e na remoção de lixo".
"Se o presidente da CML não atender a este protesto e aquilo que são as pretensões legítimas dos trabalhadores e exigências do sindicato, equacionamos continuar esta forma de luta sob todas as possibilidades que venham para cima da mesa, incluindo novas paralisações, se necessário, após audição dos trabalhadores numa nova ronda de plenários a realizar a 17 e 18 de Dezembro", acrescentou.
O dirigente sindical considerou ainda que "o presidente da câmara terá de ter uma postura diferente e dar uma resposta aos trabalhadores e sindicatos sobre o que pretende fazer do serviço de limpeza urbana da câmara de Lisboa e se está disposto a reflectir e arrepiar caminho".
Francisco Brás, dirigente do STAL, sublinhou, por seu turno, que o sindicato "valoriza a disposição do presidente da CML" para o diálogo, mas apenas se "estiver disposto a suspender o processo de privatização".

Nova greve agendada

"Está aprovado um orçamento municipal já com verbas destinadas à contratação de empresas. Queremos que essas verbas sejam transferidas para a contratação de trabalhadores e aquisição de meios para a câmara poder fazer o serviço", disse Francisco Brás rejeitando a ideia de que esta solução é temporária.
Nesse sentido, Joaquim Jorge recordou que "o está agora a ser proposto é idêntico ao que foi feito com os espaços verdes e depois assistiu-se a uma desorçamentação dos mesmos e a um aumento das áreas de acção".
Tendo como base a hipótese de os sindicatos convocarem uma nova paralisação para os dias após o Natal, o STML e o STAL já entregaram um pré-aviso de greve para os dias 26, 27 e 28 de Dezembro. Joaquim Jorge explicou que "pode ser retirado se as soluções que nos forem apresentadas nos satisfizerem".
“Este pré-aviso é uma salvaguarda, porque a greve não pode ser concretizada sem o pré-aviso", explicou, numa resposta às declarações de António Costa, que lamentou ter recebido um pré-aviso de greve dos Trabalhadores da Higiene Urbana.
"A única coisa que vi foi um pré-aviso de greve para os dias 26, 27 e 28 de Dezembro. Não vi qualquer abertura para o diálogo", disse António Costa.

Lisboa: Quarto e último dia de greve dos trabalhadores de higiene urbana com adesão acima dos 90 por cento


Números do sindicato

O quarto e último dia de paralisação dos trabalhadores da recolha de lixo e limpeza urbana da Câmara de Lisboa, que se cumpre hoje, teve uma adesão acima dos 90 por cento, disse à agência Lusa fonte sindical.
Joaquim Jorge, do Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML) acrescentou que hoje das 108 viaturas que saem no turno da noite para recolha de lixo apenas saíram duas para assegurar os serviços mínimos de recolha nos hospitais.
No período diurno - iniciado hoje às 6h00 - saíram apenas três das 65 viaturas que saem habitualmente, acrescentou.
Referiu que face a estes valores a greve contou com uma adesão "superior a 90 por cento".
Hoje, os cantoneiros não estão abrangidos pela greve, mas a lavagem a varredura de ruas também não está a processar-se, uma vez que o lixo acumulado já é muito pelo que não vale a pena varrer ou lavar as ruas sem que se recolha primeiro o lixo, disse.
Acrescentou que por essa mesma razão, e apesar de os cantoneiros não estarem hoje de greve, estão apenas a proceder à limpeza de matas.
Ainda hoje os trabalhadores da recolha de lixo e limpeza e higiene urbana vão reunir-se para fazer um balanço dos quatro dias de greve, iniciada segunda-feira, que na prática se traduziu por cinco dias sem recolha de lixo e varredura e limpeza das ruas.
Na próxima semana os trabalhadores daquele sector - que já solicitaram uma reunião com o presidente da Câmara, António Costa - vão fazer plenários com os trabalhadores para os informar da adesão à greve e decidir "novas formas de luta que não excluem mais greve" caso a autarquia "não dê garantias de abandonar qualquer tentativa de privatização naquele sector", concluiu Joaquim Jorge.
O presidente da Câmara António Costa tem negado qualquer intenção da autarquia vir a privatizar o sector de recolha de lixo e higiene urbana em Lisboa, considerando esta greve "extemporânea".

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Livro salva Saramago


Literatura: Recuperado da doença

Dez anos após a atribuição do Nobel da Literatura a José Saramago, o seu novo livro, ‘A Viagem do Elefante’, foi ontem apresentado no Centro Cultural de Belém.
"Escrevi o meu livro mais divertido e, com isso, perdi a oportunidade de fazer da dor um grande romance. Neste caso, um grande conto", começou por avisar na conversa com Manuel Maria Carrilho e António Mega Ferreira.
O livro, cujos dados históricos cabem numa página, sendo o resto imaginação do autor, esteve para não acontecer. "Suspeito que não acabarei o livro, disse um dia à Pilar", recordou, referindo-se à doença que lhe interrompeu a prosa e, por pouco, a existência.
"Este livro salvou-lhe a vida", reforçou Carrilho, recordando a visita ao Hospital de Lanzarote, onde o autor esteve internado há um ano e a impressão que lhe causou a determinação do escritor sobre o homem doente.
"É estranho isto que acontece com os autores. Um tipo está ali quase a passar para o outro lado e só se preocupa em terminar a porcaria de um livro", recorda.
Ao contrário de Mega Ferreira, para quem este é um dos seus melhores livros, Saramago revelou o filho dilecto: "O mais mal amado dos meus livros, aquele de quem ninguém fala, ‘Todos os Nomes’, esse, sim, é um bom livro!"

Número de jornalistas triplicou de 1990 a 2006



Debate. Cem anos de ensino do jornalismo deram o mote para o encontro
Entre 1990 e 2006, o número de jornalistas credenciados triplicou, um crescimento que sofreu um forte abrandamento a partir de 2002. Hoje são 7402. Os resultados fazem parte de um estudo acerca do perfil do jornalista português, coordenado por José Rebelo, do ISCTE, e foram ontem revelados pelo actual provedor da RDP, Adelino Gomes.
De acordo com os dados obtidos junto da Comissão da Carteira, e relativamente às habilitações literárias, no ano passado, 60,3% dos jornalistas portugueses eram licenciados, um número que contrasta com os 43,6% registados dez anos antes. "Em meados de 2000, a taxa de feminização ultrapassou os 40%", assinalou ainda Adelino Gomes.

Publicidade e jornalismo

Moderado por Cristina Ponte, directora da revista Media & Jornalismo, e subordinado ao tema "Cem anos de ensino do jornalismo", a conversa teve ainda a participação do director do Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas (Cenjor), Fernando Cascais, e da jornalista da RTP Ana Luísa Rodrigues.
"Jornalismo e Publicidade". Eram estas as duas vertentes do primeiro curso de jornalismo, criado em 1908 na Universidade do Missouri, nos Estados Unidos. "Algo premonitório", ironizou Fernando Cascais, durante o debate organizado pela Fundação Luso-Americana.
"Nós demorámos cem anos para conseguir ter um curso, porque começámos a pensar nisso antes dos americanos", afirmou Adelino Gomes, fazendo referência a uma reivindicação de 1879 que exigia a criação de formações livres na área das ciências sociais, e na qual o jornalista afirma que terá participado o escritor Ramalho Ortigão.

Escolas fechadas, pais preocupados e crianças felizes em dia de greve


No Porto, o dia de ontem foi diferente para os mais de 700 alunos da Escola Secundária Fontes Pereira de Melo, com as salas de aula a serem substituídas por centros comerciais e cafés. Neste estabelecimento de ensino localizado na zona da Boavista, em frente ao Estádio do Bessa, a adesão à greve atingiu os 99%. "Apenas compareceram dois professores da parte da manhã e um de tarde", disse ao DN Armando Veiga, vice-presidente do Conselho Executivo. E se a afluência de docentes foi reduzida, a de alunos também. Às 8.15, os poucos estudantes que chegavam à escola já sabiam que a maioria dos professores ia fazer greve. "Vim só porque a minha mãe disse que alguém poderia furar a greve e, nesse caso, eu teria falta. Mas tenho a certeza de que não vou ter aulas", explicou Fábio, a frequentar o 9.º ano. E a previsão confirmou-se: às 8.35 abandonava as instalações da escola na companhia de dois amigos.
Na mesma rua, a cerca de 50 metros, na Escola Secundária Clara de Resende, o cenário repetia-se. "No primeiro tempo apareceram só dois professores", disse ao DN uma funcionária administrativa. "Uma professora de Geografia do 7.º ano, contratada, e um professor de Português do 12.º", explicou.Este estabelecimento de ensino, localizado numa das zonas nobres da cidade, registou um adesão à greve de 96%, disse Maria do Rosário Queirós, vice-presidente do Conselho Executivo. "Até agora [12.40], só se apresentaram para dar aulas dois professores, sendo que no primeiro ciclo a adesão é de 100%", afirmou.

Guarda

O caos no trânsito, provocado pelas longas filas de automóveis de pais que aguardavam para saber se os filhos ficavam nas escolas, obrigou a PSP da Guarda a reforçar as patrulhas em torno das escolas da cidade mais alta. "Já devia estar no emprego, mas se não houver escola, o meu filho fica sem transporte", dizia Marisa Gonçalves, que se preparava para deixar o filho na EB 2/3 de S. Miguel, o maior agrupamento do distrito. Concentrados no exterior, os professores queriam dessa forma demonstrar que estavam na escola "mas em protesto", como afirmou Eduarda Simões, uma das docentes. Na cidade, as escolas da Sé e da Sequeira também fecharam.

Viseu

Os professores da Secundária Alves Martins, que tinham teste marcado com os alunos, compareceram na escola para esse efeito. "Só cá vim para isso, depois vou embora", afirmou Rui Sousa, docente de Geografia e um dos sete professores que nesta escola furaram a greve. Na cidade, a primeira escola a encerrar foi a Infante D. Henrique, onde os professores avisaram de véspera que iam cumprir o protesto. Apesar disso, ao toque de entrada das 8.30, os professores concentraram-se nos portões da escola. Também a EB 2/ 3 do Viso fechou. As secundárias de Viriato e Emídio Navarro encerraram também e no distrito houve escolas a fechar portas um pouco por todo o lado. A excepção foi Mangualde, onde as escolas funcionaram a meio gás.

Braga

Apesar da chuva intensa, centenas de professores concentraram-se durante a manhã em frente às câmaras municipais do distrito de Braga, para protestarem contra as políticas do Ministério da Educação. A adesão dos docentes à greve foi acima dos 90 por cento em todo o distrito, garantiu ao DN a coordenadora de Braga do Sindicato dos Professores do Norte (SPN), Lurdes Veiga.
"Esta foi uma greve diferente e o impacto foi extraordinário", afirmou a sindicalista. Na frase "uma professora em defesa da escola pública num país em liberdade" - Lurdes Veiga resume o espírito com que os docentes estão nesta luta. Segundo a sindicalista, por escola estiveram no máximo três ou quatro professores. Lurdes Veiga concluiu: "Este é um dia histórico para a classe".

Algarve

"Vou aproveitar para estudar em casa, pois tenho teste amanhã [hoje] de Filosofia. Os professores estão a protestar e fazem muito bem, mas isso impossibilita-nos dias de aulas normais", dizia ao DN Teresa Garrocho, estudante do 10.º ano na Secundária Manuel Teixeira Gomes, em Portimão, onde a adesão à greve atingiu os 96 por cento entre os 173 docentes. Perto de uma centena de docentes de várias escolas da cidade concentraram--se junto à câmara municipal em protesto. Entretanto, na secundária de Albufeira só meia dúzia dos 180 professores aderiu à paralisação marcada.

Lisboa

Escolas fechadas ou totalmente paralisadas foi um cenário que também se repetiu em Lisboa. Aqui, como no resto do País, a preocupação ia para o local onde deixar as crianças, já que poucas escolas se responsabilizaram pela sua permanência nas instalações. Pouco passava das 8.30, quando os pais dos alunos da escola Marquesa de Alorna ficaram a saber que não ia haver aulas. "A minha neta vai ficar em casa sozinha", protestava Lurdes Menino, à porta da escola. Sem avós que pudessem ser uma alternativa num dia sem aulas, Maria José Duarte viu--se forçada a levar a filha para o trabalho durante a manhã e a faltar à tarde para ficar em casa. Apesar da grande adesão à greve, na primeira aula da manhã apenas dois dos dez professores fizeram greve. Na Escola Secundária Rainha Dona Leonor, o ambiente era de intervalo sem fim. Os alunos aproveitaram a greve para encher os espaços exteriores com as suas conversas. "É a primeira vez em sete anos que estamos fechados por causa da greve", confessou Maria Margarida Cunha, presidente do Conselho Directivo.

Pausa para... avaliar

Na Secundária com 3.º ciclo Freitas Branco, em Paço de Arcos, a primeira escola visitada pelo secretário-geral da FNE, Dias da Silva, às 09.30 contavam-se 10 professores entre os 58 que deveriam estar presentes, segundo contou ao DN a vice-presidente do conselho executivo, Célia Vieira. Uma taxa de adesão acima dos 80%, muito invulgar nesta escola, sendo que alguns professores "mesmo estando em greve, decidiram vir à escola só para fazerem testes aos alunos, para não os prejudicarem, porque o calendário agora é apertado". Nos corredores e, em menor número, nos pátios, notava-se algum vaivém de estudantes, mas esta professora garantia que a situação estava sob controlo: "Muitos alunos foram avisados de véspera pelos professores e já não vieram. Noutros casos, os pais telefonaram de manhã e tiveram de esperar algum tempo até os avisarmos se os filhos tinham aulas". os que ficaram na escola, sobretudo os mais novos, foram encaminhados para espaços como o "multiusos e a biblioteca". Mas alguns alunos mais velhos iam gerindo os 'furos' com mais liberdade: "Não tive a primeira aula e estive ali à porta à conversa com uma turma do 11.º que vai ter a manhã livre", contou ao DN Vasco Martins, do 11.º C. "Mas, agora, já sei que vou ter Matemática, porque via professora passar de carro".

Plano B

"Boa!". Mariana, de 12 anos, não esconde a satisfação quando se depara com o portão da escola fechado e descobre que não vai ter aulas. Ao lado, António Ribeiro, o pai, tenta disfarçar um sorriso. Às 8.45, a escola EB 2,3 das Piscinas "não tem um único professor" explica o porteiro aos pais que vão chegando. Resignados, os pais accionam o "plano B": Mariana vai passar o dia no ATL. André nem sai do carro e vai directamente para casa da avó, diz a mãe, Carla Carvalhais. Na escola secundária do outro lado da rua também não há uma única aula a decorrer, mas a maior parte dos adolescente prefere ficar na conversa a ir para casa.
Mais complicada é situação de Idalina. À porta da escola primária Paulino Montez, onde estão apenas três dos 14 professores, conta-nos que vai ter de faltar ao trabalho para ficar com as duas filhas. Mas não censura os professores: "Toda a gente tem direito à greve", diz.

Ministério confirma maior greve de sempre


Educação. A "plataforma" fala num recorde: 94% de adesão à greve. O Ministério refere 61%, o que não deixa de ser a maior paralisação alguma vez assumida por um Governo. No braço--de-ferro, tudo igual: as partes trocam acusações de intransigência, mas declaram abertura para negociar

Ministério confirma maior greve de sempre

As contas, como tem sido hábito, não batem certo. De acordo com o Ministério da Educação, 61% dos professores participaram no protesto de ontem, parando 30% das escolas. Os sindicatos falam em 94%. Mas a conclusão não muda: a greve de ontem foi mesmo a maior de sempre, geral ou sectorial. Isto porque, se os dados da "plataforma" são recordistas, também não há registode um governo ter admitido mais de dois terços de adesão a uma greve.
Basta recordar que a 2 de Outubro, primeiro dia da greve da Função Pública convocada pela CGTP, o Governo falou em 11% contra 75% da central sindical. "Claramente, o Governo acaba por reconhecer que esta greve de professores foi a maior de sempre", disse ao DN João Proença, secretário-geral da UGT. "De resto, só há alguns anos começou a divulgar os próprios números, e sempre entre os 10% e os 15%".
Desta vez, o valor mais baixo que o ministério anunciou, com base nos dados às 11.00, foram 44,8% de adesão no Alentejo. No Norte, por outro lado, a tutela assumiu uns inéditos 90,4%.

"Não cedemos a ultimatos"

Estas são, no entanto, contas que o secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, não terá considerado antes da conferência de imprensa que deu na 5 de Outubro, onde defendeu que apesar da "significativa" mobilização , "os objectivos traçados pelos sindicatos de professores falharam". De resto, a avaliar pelo discurso ministerial, nada do que se passou ontem justifica ponderar novos recuos.
De manhã, o outro secretário de Estado, Jorge Pedreira, tinha manifestado disponibilidade da tutela para prolongar por mais "alguns anos" o modelo simplificado do Governo - o tal que os sindicatos já recusaram. À tarde, Valter Lemos garantiu que, "como sempre", o ministério está "inteiramente disponível" para negociar e que é à posição de "intransigência" da "plataforma" que se deve o actual impasse.
Confrontado com o facto de, pela terceira vez num ano, mais de 60% dos professores se terem associado a essa "posição" sindical e de a suspensão já ter sido exigida em mais de 300 escolas e agrupamentos, o governante não desarmou: a lei "é para cumprir" e o Governo "não cede a ultimatos".
No que cada vez mais se assemelha a uma "conversa de surdos", os argumentos das partes não deixam de revelar uma notável coincidência. Cerca de hora e meia depois, Mário Nogueira considerou que os cerca de 132 mil professores que ontem fizeram greve reforçam a posição da "plataforma" para... negociar. Essa é, aliás, a grande vontade dos sindicatos, acrescentou, um processo de negociação "sério e aberto". "O ministério tem de aceitar negociar sem condições prévias, ao contrário do que tem feito, e ainda por cima colocando o ónus da intransigência nos sindicatos", acusou.
Para as 11 organizações reunidas na "plataforma", o reconhecimento de que esta foi "uma greve significativa" implica que se tirem as devidas consequências. E esperam que isso aconteça nos próximos dias, dado o "nervosismo" que detectaram nas palavras de Valter Lemos.

Após o humor Saramago anuncia o pessimismo


Lançamento. 'A Viagem do Elefante' em Lisboa

O Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB) não foi pequeno para as centenas de pessoas que estiveram no lançamento do último livro do Prémio Nobel português, A Viagem do Elefante, ontem ao fim da tarde. O próprio escritor lamentou que o violento mau tempo que antecedeu a cerimónia tivesse feito desanimar pessoas que gostariam de ali ter estado e, como quem não quer a coisa, recordou que no lançamento do mesmo livro em S. Paulo tinha mil pessoas a ouvi-lo.
Mesmo com um número de presenças inferior ao esperado, o editor Zeferino Coelho avisou que José Saramago não assinaria mais do que 200 livros (no Brasil foram 150), quantidade que era manifestamente baixa para a extensa fila de pessoas - mais do dobro - que já se tinham posto ordeiramente no salão à espera do seu autógrafo depois de uma salva de palmas que deu por terminada uma divertida sessão de duas horas.
Saramago esteve igual a si próprio e, apesar da estratégia combinada, na noite anterior, na sua casa, com os apresentadores da obra - António Mega Ferreira e Manuel Maria Carrilho -, o resultado foi bem diferente porque o Nobel não se calou durante 90% do tempo. Nada que importasse à audiência, que ouvia silenciosa e interessadamente as razões por ele apresentadas para estar vivo contra todos os prognósticos e que ria com as justificações para ter feito um livro tão divertido como A Viagem do Elefante. Se alguém pouco acostumado ao Nobel entrasse no auditório teria estranhado algumas das suas afirmações. Entre elas a de que, apesar de não ser medium, desconhece como o livro se materializou; que após a doença se surpreendeu com uma segunda revelação, a de uma linguagem que desaparecera de si há mais de 30/40 anos e a descrição de uma das suas memórias sobre os tempos mais complicados no hospital, de quando viu quatro pontos brancos...
Entre os que marcaram presença esteve o ministro da Cultura, Pinto Ribeiro, que partilhou com a assistência os recados dados por Saramago no que respeita às suas preocupações com a língua portuguesa - que é tão maltratada - e com a ausência de respeito pelos direitos humanos.
Para o final estava reservada uma surpresa quanto ao seu futuro como escritor ao anunciar que o próximo livro iria ser o oposto deste que estava a apresentar. Nada de humor - pelo contrário, será o mais pessimista possível porque "só os pessimistas é que estão preocupados com o estado a que chegou o nosso mundo".

Dream On - “Um musical numa viagem ao Sonho” subiu ao palco no Casino Estoril

  O 10º aniversário, da Associação Palco da Tua Arte, foi assinalado com um espectáculo cujo o título foi Dream On – “Um musical...