O aumento do "fosso social" e...
O aumento do "fosso social" e uma vida política "pouco participada" são as principais preocupações de Jorge Sampaio quando se celebram os 100 anos da implantação da República.
"Há desenvolvimentos extremamente positivos. Mas temo que cresça o fosso entre os decisores e os cidadãos em geral. Isso é muito mau para a coesão social que o país tem de ter, a única maneira de poder avançar por entre as vicissitudes da globalização. E, por outro lado, uma vida política e democrática ainda muito pouco participada...Estamos a cair num desinteresse e numa modorra que é relativamente difícil. E sobretudo temos de combater a falta de esperança", considerou o ex-Presidente da República, 71 anos, em entrevista à agência Lusa.
O desemprego jovem, a ausência de "formação necessária", a persistente emigração "demonstram que as pessoas não estão a ter esperança naquilo que o país pode proporcionar", sublinhou o antigo chefe de Estado (1996-2006). Num momento em que a crise "se arrisca a ser o principal tema de que se fala".
Ao referir-se a uma situação de "extrema dificuldade", o antigo Presidente sublinha a necessidade de "sermos fiéis aos valores que enformaram a República" e de enfatizar os "bons momentos" que demonstram capacidade em ultrapassar os obstáculos.
"Mas ao mesmo tempo, são momentos que têm de nos motivar para que as dificuldades não se repitam, embora não da mesma maneira mas com características idênticas. Esse parece ser o ponto mais importante", considera.
A necessidade de "repartir o esforço para que não sejam sempre os mesmos a salvar-se" e evitar que "seja sempre o mesmo que paga todas as facturas" foi outro aspecto sublinhado por Jorge Sampaio.
"Estou preocupado com a necessidade de uma visão patriótica, moderna e de esperança, e que os sacrifícios que são precisos ser feitos sejam tão desiguais que só aumentem desconfiança, desconforto e distâncias face aos que têm capacidade para decidir", frisou.
Ao pronunciar-se sobre a actual "época de incertezas", considera que a "velocidade das mudanças" em termos estratégicos, de alterações climáticas ou das energias está a originar "uma enorme desconfiança em relação ao seu futuro e também crises de coesão social significativas".
Em paralelo, e em jeito de comparação com a sua geração de políticos, denota hoje entre os decisores "um pendor mais tecnocrático e que corresponde mais a uma evolução de dar menos importância aos valores, coisa que considero questão fundamental".
No entanto, ao definir como indispensável a "renovação das gerações com responsabilidade políticas", alerta para a necessidade "de não deixar adormecer a vivência da cidadania e da participação, a sociedade civil viva".
A necessidade de combater o desencanto e a descrença do cidadão comum face aos políticos constitui para Jorge Sampaio a grande prioridade de um momento particularmente complexo.
"O que foi adquirido precisa de ser regado todos os dias e penso que na nossa política quotidiana há algo que não é perceptível, no melhor sentido do termo, pelos cidadãos em geral", sublinha.
"Isso exige dos actores políticos uma grande consciência do que é preciso fazer e dos exemplos que têm de dar, e têm que dar. Um combate sério àquilo que são as perigosas tentativas de 'affairismo', de ligação muitas vezes profunda entre poder económico e poder político".
Ao definir a República como um "sistema de legitimidade democrática", o antigo chefe de Estado considera no entanto que é necessário ter a noção "de que não existem apenas direitos".
E concretiza: "A República também é a autoridade, é anseio de justiça mas também é preciso justiça célere, os ideias republicanos são de seriedade, honestidade, mas também há corruptos e é preciso persegui-los".
Mas conclui com um sinal de esperança, ao referir-se a uma "nova maturidade na abordagem das matérias" que resultaram após as "confrontações" que se seguiram ao 25 de Abril.
"Julgo ser necessário distinguir entre o contributo que a República dá, nos valores, nas lições, nas vicissitudes, nas grandezas e também nas misérias, num século de vida portuguesa".
"Há desenvolvimentos extremamente positivos. Mas temo que cresça o fosso entre os decisores e os cidadãos em geral. Isso é muito mau para a coesão social que o país tem de ter, a única maneira de poder avançar por entre as vicissitudes da globalização. E, por outro lado, uma vida política e democrática ainda muito pouco participada...Estamos a cair num desinteresse e numa modorra que é relativamente difícil. E sobretudo temos de combater a falta de esperança", considerou o ex-Presidente da República, 71 anos, em entrevista à agência Lusa.
O desemprego jovem, a ausência de "formação necessária", a persistente emigração "demonstram que as pessoas não estão a ter esperança naquilo que o país pode proporcionar", sublinhou o antigo chefe de Estado (1996-2006). Num momento em que a crise "se arrisca a ser o principal tema de que se fala".
Ao referir-se a uma situação de "extrema dificuldade", o antigo Presidente sublinha a necessidade de "sermos fiéis aos valores que enformaram a República" e de enfatizar os "bons momentos" que demonstram capacidade em ultrapassar os obstáculos.
"Mas ao mesmo tempo, são momentos que têm de nos motivar para que as dificuldades não se repitam, embora não da mesma maneira mas com características idênticas. Esse parece ser o ponto mais importante", considera.
A necessidade de "repartir o esforço para que não sejam sempre os mesmos a salvar-se" e evitar que "seja sempre o mesmo que paga todas as facturas" foi outro aspecto sublinhado por Jorge Sampaio.
"Estou preocupado com a necessidade de uma visão patriótica, moderna e de esperança, e que os sacrifícios que são precisos ser feitos sejam tão desiguais que só aumentem desconfiança, desconforto e distâncias face aos que têm capacidade para decidir", frisou.
Ao pronunciar-se sobre a actual "época de incertezas", considera que a "velocidade das mudanças" em termos estratégicos, de alterações climáticas ou das energias está a originar "uma enorme desconfiança em relação ao seu futuro e também crises de coesão social significativas".
Em paralelo, e em jeito de comparação com a sua geração de políticos, denota hoje entre os decisores "um pendor mais tecnocrático e que corresponde mais a uma evolução de dar menos importância aos valores, coisa que considero questão fundamental".
No entanto, ao definir como indispensável a "renovação das gerações com responsabilidade políticas", alerta para a necessidade "de não deixar adormecer a vivência da cidadania e da participação, a sociedade civil viva".
A necessidade de combater o desencanto e a descrença do cidadão comum face aos políticos constitui para Jorge Sampaio a grande prioridade de um momento particularmente complexo.
"O que foi adquirido precisa de ser regado todos os dias e penso que na nossa política quotidiana há algo que não é perceptível, no melhor sentido do termo, pelos cidadãos em geral", sublinha.
"Isso exige dos actores políticos uma grande consciência do que é preciso fazer e dos exemplos que têm de dar, e têm que dar. Um combate sério àquilo que são as perigosas tentativas de 'affairismo', de ligação muitas vezes profunda entre poder económico e poder político".
Ao definir a República como um "sistema de legitimidade democrática", o antigo chefe de Estado considera no entanto que é necessário ter a noção "de que não existem apenas direitos".
E concretiza: "A República também é a autoridade, é anseio de justiça mas também é preciso justiça célere, os ideias republicanos são de seriedade, honestidade, mas também há corruptos e é preciso persegui-los".
Mas conclui com um sinal de esperança, ao referir-se a uma "nova maturidade na abordagem das matérias" que resultaram após as "confrontações" que se seguiram ao 25 de Abril.
"Julgo ser necessário distinguir entre o contributo que a República dá, nos valores, nas lições, nas vicissitudes, nas grandezas e também nas misérias, num século de vida portuguesa".
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