sábado, outubro 02, 2010

Quase todos os médicos vão ter cortes nos salários



PEC III

Federação Nacional dos Médicos teme saída para o privado dos médicos mais especializados e em áreas mais carentes.

A quase totalidade dos médicos que trabalham no SNS vai sofrer cortes salariais na sequência do novo plano de austeridade anunciado na quarta-feira. Há mais de 26 mil clínicos a trabalhar no sector público e, de acordo com as tabelas salariais para 2009 e 2010, só os médicos não especialistas auferem menos de 1500 euros e, por isso, estão isentos de cortes em 2011. Dirigentes sindicais acreditam que esta medida possa ditar a saída de médicos mais especializados, nomeadamente para o sector privado.
Mário Jorge Neves, dirigente da Federação Nacional dos Médicos, disse ao DN que "quase todos os médicos que estão no serviço público vão ser alvo de cortes, estão a contrato individual de trabalho ou de funções públicas", avança. O bastonário, Pedro Nunes, relembra que "mesmo os internos são afectados, porque ganham acima de 1500 euros". De fora, talvez fiquem apenas "os internos do primeiro ano (ano comum), ou seja, os que ainda não estão a especializar-se", acrescenta Mário Jorge Neves, porque estão no limite de 1500 euros.
As medidas anunciadas para a área da saúde, que visam uma poupança de mais de 500 milhões em 2011, somam-se às apresentadas recentemente na área do medicamento, que vão reduzir os gastos em 250 milhões de euros.
O sindicalista está preocupado com o corte salarial, mas não por temer mais saídas, que apenas se deveram às penalizações deste ano nas reformas antecipadas. "Isso só se verificou nessa altura e as pessoas têm de ter condições para se reformarem. Temo é que os médicos possam ir para o privado".
Apesar de considerar que estas unidades não são a galinha dos ovos de ouro, o médico calcula que "os médicos mais diferenciados sintam mais essa apetência". Os cortes mais elevados poderão sentir-se mais nos médicos em regime de exclusividade ou mais bem colocados na tabela salarial.
"Apesar de a exclusividade afectar mais os médicos de família, já que 70% a têm, são os da área hospitalar que são mais recrutados no privado. Com estas reduções salariais, os privados terão maior poder negocial para contratar especialistas em anestesia, medicina interna, ginecologia e obstetrícia, oftalmologia, cirurgia plástica, otorrinolaringologia, entre outras", exemplifica. Nestas áreas, o sector privado também se está a ressentir da carência de especialistas, considera Mário Jorge Neves.
Pilar Vicente, do mesmo sindicato, ressaltou ainda que, "mesmo os internos, fazem muitas horas extraordinárias", também elas alvo de redução com as novas medidas, porque são calculadas em função do salário-base. Ao mesmo tempo, o Governo anunciou novos cortes. Depois do corte de 5% anunciado em Maio, o Ministério da Saúde esteve indisponível para esclarecer se haverá novas reduções, que irão afectar serviços essenciais como as urgências. Além do corte dos preços dos exames e análises clínicas em prestadores convencionados, que permitirão poupar três milhões em 2011, esperam-se novas medidas quando for apresentado o Orçamento do Estado.

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