Educação: Alunos voltaram a sair ontem à rua Milhares de estudantes manifestaram-se ontem contra o Governo em escolas de todo o País e em frente ao Ministério da Educação, num protesto marcado por SMS, e-mail e pelo Hi5. Governo, PS e organizações de pais falam em instrumentalização dos alunos e até acusam os professores de estar por detrás da contestação, com a Fenprof a ameaçar processar quem difamar os docentes. A crise que se vive no sector educativo levou mesmo o Presidente da República a apelar à "serenidade".
O caso mais complicado terá ocorrido na Escola de Idães, em Felgueiras, onde um encarregado de educação acusa a GNR de agredir sete jovens que tiveram de ser assistidos no hospital. No resto do País, registaram-se incidentes pontuais. O protesto fez-se ouvir em quase todos os distritos. Só na zona Centro registaram-se manifestações em 14 concelhos.
O secretário de Estado Valter Lemos garantiu, porém, que 'das 1200 escolas do País só pouco mais de uma dezena teve manifestações à porta'. E falou em 'instrumentalização dos alunos'. Vitalino Canas, porta-voz do PS, foi mais longe e acusou 'alguns radicais e alguns professores' de estarem por detrás do protesto. Margarida Moreira, directora Regional de Educação do Norte, diz que foram identificados dois alunos de uma juventude partidária. Cavaco Silva condenou os 'desacatos e insultos protagonizados por alguns alunos' e apelou para que 'cada um faça um esforço para que a serenidade regresse às escolas e para desanuviar esta situação de alguma tensão no sector'.
124 ESCOLAS SEM AVALIAÇÃOA Fenprof divulgou ontem uma lista com 124 escolas de todo o País nas quais o modelo de avaliação de professores está suspenso.
A Plataforma Sindical de Professores reúne-se na próxima segunda-feira e poderá decidir uma greve nacional para breve.
PERGUNTAS E RESPOSTAS- Qual a principal contestação dos estudantes?- O regime de faltas do Estatuto do Aluno (EA), que dizem poder resultar no chumbo mesmo por dar faltas justificadas devido a doença.
- O que diz a lei?- O EA estipula que quando se atinge o limite de faltas justificadas (o triplo dos tempos lectivos semanais por disciplina, no Básico e Secundário) o aluno seja sujeito a medidas correctivas de apoio ao estudo e a uma prova de recuperação.
- Chumbar na prova pode resultar na reprovação?- Sim. A lei diz que quando o aluno não obtém aprovação o conselho de turma pondera a justificação ou injustificação das faltas, o período lectivo e o momento em que a prova ocorreu e, sendo o caso, os resultados nas outras disciplinas, podendo determinar um plano de acompanhamento e nova prova de recuperação ou o chumbo.
- O que diz o Ministério?- A ministra disse anteontem que 'os alunos não são obrigados' a provas de recuperação e que 'muitas escolas fizeram uma aplicação inadequada' do EA.
DE NORTE A SULFaltaram às aulas, pintaram cartazes, encheram as ruas e fizeram-se ouvir. Milhares de alunos protestaram ontem contra o Governo. Alguns voltaram a arremessar ovos, outros preferiram lançar laranjas.
AVEIRO
Os protestos também foram ouvidos em Aveiro, reunindo dezenas de estudantes
MIRANDA DO CORVO
Os estudantes da Escola Básica 2,3/S José Falcão faltaram às aulas
CHAMUSCA
Os alunos da Escola EB 2,3/S fecharam os portões com correntes e cadeados
LISBOA
O boneco da ministra da Educação do programa ‘Contra-Informação’ também participou
VIANA DO CASTELO
Ruas encheram-se de estudantes inconformados com o regime de faltas
BEJA
Quinhentos alunos marcharam até ao Governo Civil e atiraram laranjas. PSP interviu
FAFE
Os estudantes de Fafe foram à Câmara pedir desculpa pelos excessos nos protestos
LOUSADA
Três centenas de alunos participaram no protesto frente à Escola Secundária de Lousada
PORTALEGRE
Contestação reuniu 90% dos alunos das Secundárias e da EB 2,3 Cristóvão Falcão
VIANA DO ALENTEJO
Os alunos da EB 2,3 Dr. Isidoro de Sousa também trancaram a escola a cadeado
FARO
Cerca de 300 alunos de Faro, Olhão e Quarteira concentraram-se frente ao Governo Civil
DESENTENDIMENTO ENTRE SOCIALISTASA avaliação de professores está a provocar polémica até entre a elite do Partido Socialista. O líder do partido, José Sócrates, garantiu ontem que não estava preocupado com as eleições quando decidiu avaliar os professores, respondendo desta forma ao número dois do partido, António Costa, que se mostrou preocupado com a perda da maioria socialista no próximo acto eleitoral devido à contestação.
No programa ‘Quadratura do Circulo’, da SIC Notícias, António Costa, reconheceu que o PS pode perder a maioria nas eleições, em consequência desta polémica. Afirmou mesmo que 'parte importante do eleitorado do PS está em ruptura com o partido'.
A resposta de José Sócrates não se fez esperar. 'Não estamos a pensar nos votos e nas consequência eleitorais quando definimos a avaliação dos professores', afirmou o chefe de Governo e líder máximo do PS, reiterando a importância deste modelo:'Durante 30 anos tivemos progressão automática das carreiras. Temos de acabar com isso. Não estou a pensar em votos, mas sim em servir o País.'
APONTAMENTOSCONVOCADOS POR SMS
Os protestos dos alunos foram convocados em reuniões locais de associações de estudantes, por SMS (mensagem de telemóvel), através da colocação de cartazes nas escolas e pelo hi5.
MAIL CONTRA O PS
Circula entre os professores um mail que apela à não-votação no PS nas próximas eleições legislativas. O texto, a que o CM teve acesso, refere que 'oficialmente começou a campanha eleitoral dos professores contra o PS'.
PROCESSO A SÓCRATES
Um grupo de professores de Viseu ameaça processar José Sócrates por este ter dito que os docentes não eram avaliados há 30 anos
NOTASREUNIÃO: MINISTROS JUNTOS
Apesar das contestações, o primeiro-ministro, José Sócrates, e a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, mantiveram a agenda e estiveram na reunião com os ministros da CPLP.
LISBOA: PROFESSORES NA RUA
Dias depois da maior manifestação de sempre, os docentes regressam hoje às ruas de Lisboa. Os motivos são os mesmos, mas o protesto foi convocado por movimentos independentes.
CONCURSOS: FALTA DE ACORDO
Os sindicatos e o Ministério da Educação falharam ontem a última tentativa de acordo sobre o concurso de colocação de professores. O Governo mantém o concurso quadrienal.