quinta-feira, outubro 22, 2009

O império Astérix já tem meio século



O irredutível gaulês que arrebatou os louros de César cumpre meio século de resistência. A publicação de um novo álbum - hoje, simultaneamente em 19 países, com uma edição total de 3,5 milhões de exemplares - e vários eventos celebram o aniversário de um (ou dois, se contarmos com o fiel e intransponíbel Obélix) dos personagens de BD mais conhecidos em todo o mundo. O álbum a publicar hoje, 'O Aniversário de Astérix e Obélix', começa, aliás com a saída de ambos da aldeia para a sua ocupação preferida: caçar javalis. O que não sabiam era que toda a aldeia lhes preparava uma festa-surpresa. Os indefectíveis encontrarão lá alguns segredos de uma poção mágica inesgotável

A história da criação de Astérix poderia fazer hoje com que o céu caísse sobre a cabeça de alguns governantes franceses. Aquele que é, indiscutivelmente, um dos símbolos do país mais reconhecidos em todo o mundo nasceu há precisamente meio século num apartamento de um bairro social, em Bobigny, nos tumultuosos#subúrbios de Paris.
Em Agosto de 1959, o escritor René Goscinny e o desenhador Albert Uderzo davam à luz o duo mais temido do Império romano. Isso terá acontecido em apenas 15 minutos: primeiro desenharam Óbelix e só depois surgiu o inseparável companheiro Astérix. Dois anti-heróis numa luta de resistência à ocupação romana, entre zaragatas e banquetes, grandes exped- ições e encontros com personagens de nomes improváveis, que pretendiam caricaturar a sociedade francesa orgulhosa da sua "excepção cultural".
Numa época em que o general De Gaulle se mostrava irredutível face aos dois grandes blocos da guerra fria, a história da única aldeia a resistir à invasão romana não tardou muito tempo a cativar os leitores franceses e a transformar-se numa metáfora recorrente. Contava-se que, num conselho de ministros nos anos 70, o próprio De Gaulle teria mesmo comparado os ministros do seu Governo com os personagens da irredutível aldeia gaulesa.
Hoje é frequente ver os títulos e situações dos álbuns evocados na imprensa francesa para descrever a actualidade, do "combate dos chefes" dentro do Partido Socialista à luta do militante anti-globalização José Bové na defesa da agricultura gaulesa face à invasão dos OGM. Mesmo o actual primeiro-ministro francês, François Fillon, um admirador confesso de Astérix, não hesitará em recorrer ao apelido de "Caius Detritus", um espião romano que semeia a divisão entre os gauleses no livro A Zaragata, para se referir ao líder do seu próprio partido, Xavier Bertrand.
Depois da aparição das primeiras tiras de Astérix na revista de BD Pilote, o primeiro álbum em 1961, Astérix o Gaulês, foi publicado com apenas 6 mil exemplares, atingindo, porém, os 20 mil exemplares, poucos meses depois com Astérix e a Foice Dourada. Trinta e quatro aventuras depois e com mais de trezentos milhões de álbuns vendidos em todo o mundo, a saga do personagem de capacete alado está na base de um império que faria corar de vergonha o próprio Júlio César, traduzido em 107 línguas e dialectos (entre os quais o mirandês), tendo inspirado filmes, jogos de computador, discos, adaptações teatrais, um parque temático e arrecadando mais de 11 milhões de euros de lucros anuais.
Desde a morte de Goscinny, em 1977, que o desenhador Uderzo prossegue sozinho a aventura tendo publicado entretanto dez novos álbuns, fiel às caricaturas de povos e situações reais.
O novo álbum publicado hoje em todo o mundo - O Eniversário de Astérix - é, antes de mais, um reencontro com alguns dos mais célebres personagens da saga, convocados à aldeia gaulesa para uma festa-surpresa, enquanto Astérix e Obélix, sem desconfiarem de nada, partem, como habitualmente, à caça de javalis.
Subversão e mitologia nacionalista são os ingredientes da poção mágica que em meio século se tornou no primeiro produto de exportação francês. Mas longe do culto patriótico, o irredutível herói é a antítese do mítico líder da Gália, Vercingétorix, que, segundo a lenda, teria sido derrotado pelos romanos numa povoação ainda hoje tão difícil de localizar no mapa pelos historiadores como pelos personagens da série de banda desenhada. "Estes franceses estão loucos"?

Sem comentários:

Dream On - “Um musical numa viagem ao Sonho” subiu ao palco no Casino Estoril

  O 10º aniversário, da Associação Palco da Tua Arte, foi assinalado com um espectáculo cujo o título foi Dream On – “Um musical...