sábado, abril 25, 2009

"Não faria entrevista" se Sócrates não falasse do Freeport


Judite de Sousa

Directora adjunta de informação da RTP, é por muitos considerada a melhor entrevistadora da TV portuguesa. Numa grande entrevista à Notícias TV, comparou Sócrates e Cavaco, confessou as suas inseguranças, lamentou o fim da amizade com Moniz e Manuela Moura Guedes e assume que deu a sua opinião sobre a ida do marido, Fernando Seara, para a TVI 24

O caso Freeport ocupou grande parte do tempo da sua entrevista desta semana a José Sócrates. S. Bento não lhe colocou qualquer tipo de reserva sobre o assunto?

Não. Nesta, como noutras entrevistas a este nível, são definidos temas. Não há um acordo quanto a perguntas, como é óbvio, mas tem de haver uma definição de temas. As pessoas têm de estar preparadas.

Imagine que José Sócrates, ou alguém por ele, lhe dizia antes da entrevista desta semana que não falava do caso Freeport...

Eu não faria a entrevista. Não aceitaria essa condição.

Mesmo sabendo que não falando de Freeport a entrevista teria sobejos assuntos de interesse, como a situação económica do País, a contestação social na rua, o círculo eleitoral que aí vem, etc...

Não, na conjuntura actual, sabendo que o caso Freeport está no topo da agenda mediática, seria completamente inaceitável para mim e incompreensível que essa condição fosse colocada. E mais ainda que eu aceitasse essa condição.

É normal imporem-lhe condições?

Não, não é normal. A única pessoa que até ao momento me impôs uma condição para me dar uma entrevista foi Bill Gates. Mas foi uma condição perfeitamente aceitável, que era não falar da sua vida privada. Achei normal porque é uma condição que eu própria imponho quando dou entrevistas.

Que tipo de ponderação é que fez?

O que pensei e acho que é o que se deve pensar é: "Eu vou perder esta entrevista pelo facto de me estarem a colocar uma condição?" E tenho de encontrar a resposta. Eu não queria, por nada deste mundo, perder a entrevista com o Bill Gates

A Judite dá a cara pelo mais antigo programa de entrevistas da televisão portuguesa. A Grande Entrevista está no ar há 12 anos...

Sim. O meu primeiro entrevistado foi Sousa Franco, antigo ministro das Finanças de António Guterres. Durante muitos anos, o programa teve uma periodicidade quinzenal e só com o Luís Marinho como director de Informação da RTP, ou seja, há cinco anos, passou a ser semanal.

Tem ideia de quantas personalidades já entrevistou?

Cerca de 500. Estive a fazer as contas no outro dia e o número é aproximadamente esse. Mesmo durante o tempo em que a Grande Entrevista era quinzenal havia períodos em que eu fazia várias entrevistas durante a semana, em períodos de grande tensão política ou em ciclos eleitorais. E há pessoas que já entrevistei cerca de dez vezes: Paulo Portas e Francisco Louçã, entre outros.

Quem é que lhe falta entrevistar?

Tanta gente. Gostava muito de entrevistar o José Mourinho. Já o convidei dezenas de vezes.

E podia ser em Milão, tanto mais que já foi a Manchester entrevistar Cristiano Ronaldo...

Sim, eu vou onde for preciso. Eu sou como o slogan da TSF, vou até ao fim do mundo. Nem que depois leve muita pancada por causa disso. Levei muita pancada, se bem se lembra, por ter ido ao Rio de Janeiro entrevistar Fátima Felgueiras.

E Mourinho nunca aceitou?

Já o convidei dezenas de vezes. Há pessoas que têm um estatuto que lhes permite decidir em que momento querem dar entrevistas. Ele só dá entrevistas quando quer e a quem quer.

Que conclusão tira daí, que ele não lhe quer dar uma entrevista a si?

Não. Ele não me deu a mim como não deu a ninguém. A entrevista que há uns anos a Clara de Sousa lhe fez quando ele foi para o Chelsea foi-me inicialmente oferecida. Só que na altura, naquela semana em que ele estava disponível, eu não podia deslocar-me a Londres. Ainda não aconteceu, mas não perco a esperança.

Tal como a Cavaco Silva, desde que chegou a Belém...

Pois. Já contactei o Fernando Lima, assessor de imprensa, dezenas de vezes. Estou sempre a telefonar-lhe. "Fernando, aqui estou, mais uma vez. É só para lhe lembrar que estou interessada na entrevista, blá blá, blá..." Nós, que andamos nisto há muito tempo, sabemos que estas coisas são assim. O Presidente só dá entrevistas quando quer e a quem quer.

Mas Cavaco, desde que está em Belém, já deu entrevistas a outros jornalistas que não à Judite. Por exemplo, a Maria João Avillez na SIC...

Sim, e nas circunstâncias que se conhecem. Numa quinta-feira, em cima de mim, que tinha nesse dia como convidado Pedro Santana Lopes acabadinho de publicar o seu livro sobre aqueles sete meses como primeiro-ministro e no qual ele fazia o seu ajuste de contas com uma série de pessoas, a começar por Jorge Sampaio. E a SIC programou a entrevista com o Presidente da República para aquele dia...

Programou e bem... do ponto de vista concorrencial.

[risos] Mal. Programou mal. Porque correu mal. Porque não se pode programar uma entrevista com o Presidente da República à mesma hora que outra entrevista num outro canal, porque pode correr o risco de o Presidente da República ter menos audiência. E foi o que aconteceu. Não se pode colocar o Presidente numa situação de inferioridade em relação a quem quer que seja. Mas, enfim, são aquelas situações de excesso de convencimento. Pessoas bem avisadas e com alguma idade sabem que é arriscado fazer coisas dessas. Ainda por cima com Santana Lopes, que é um tanque do ponto de vista comunicacional, como toda a gente sabe.

Portanto, continua à espera de Cavaco...

Continuo à espera que o Presidente queira vir à televisão pública dar uma entrevista. Não tem de ser ao meu programa, pode ser uma entrevista especial. A mim, ao José Alberto Carvalho, a mim e ao José Alberto. Obviamente, não me passa pela cabeça que o Presidente da República não queira ser entrevistado também por mim, considerando que já entrevistei Cavaco Silva imensas vezes. Aliás, é notável quando me lembro que durante as duas maiorias de Cavaco, ele fartava-se de dar entrevistas à RTP. No próprio Telejornal. Eu entrevistei-o imensas vezes no Telejornal. Ele era um primeiro-ministro muito disponível.

Está a ver isso hoje em dia ser possível com José Sócrates?

[risos] Não, de todo. Nesse campo houve alguma sofisticação a nível comunicacional.

De 1987/95 [duas maiorias de Cavaco] a 2005/09 [maioria de Sócrates] há muitas diferenças na relação do poder político com a imprensa...

Sem dúvida. As condições comunicacionais de hoje são de forma a proteger o primeiro-ministro, a isolá-lo das perguntas dos jornalistas. Há uma imagem que está gravada na minha cabeça e que nunca esquecerei: a Dina Aguiar, repórter e simultaneamente pivô do Telejornal, de microfone na mão atrás de Cavaco Silva, nas escadas de Belém. Ele a descer e a Dina Aguiar atrás dele a fazer-lhe perguntas. Ora isto hoje é impensável. Mas tanto é impensável para Sócrates como para Cavaco. O registo é hoje muito diferente. São poucos os jornalistas que, hoje em dia, se conseguem aproximar do primeiro-ministro. É tudo mais apertado.

Mas até a preparação mediática de um político que chega ao poder é hoje mais elaborada...

Claro! Mas Cavaco há 20 anos, no seu tempo, foi um homem muito bem acompanhado do ponto de vista de comunicação. Sempre teve bons assessores de imprensa e soube rodear-se de grandes consultores de comunicação. É evidente que o investimento que hoje se faz na comunicação é maior. Porque os políticos julgam que a comunicação vale tudo. É preciso relativizar essa importância. A comunicação não substitui a realidade. Por vezes, os políticos exageram. Mas depois também há aqueles que pura simplesmente ignoram a importância da comunicação, como é o caso de Manuela Ferreira Leite. E, claro, vão ter de encontrar algumas razões para o insucesso por esse lado.

Sócrates exagera?

[pausa] Não, não acho que ele exagere. Mas acho que devia ser mais espontâneo, mais verdadeiro. Devia ser mais Obama. Eu gosto da atitude do Obama. Acho o Obama uma personalidade inspiradora a todos os níveis. Mas, a nível da sua relação com os media, o que mais me tem fascinado é a forma descontraída, distendida, solta e natural como ele reage às perguntas, às adversidades. Percebe-se que aquele homem está a ser verdadeiro. Não há maquilhagem ali. E Sócrates, se conseguisse aproximar-se daquele registo, teria muito a ganhar. Os nossos políticos deviam ser mais serenos com a comunicação social. Sinto o ambiente muito crispado.

Soares é capaz de ter sido o último político a ter essa relação descontraída com a imprensa...

É verdade. É muito bem observado.

Estou a falar de Soares-Presidente, não de Soares-candidato nas últimas eleições para Belém...

Sim, houve uma grande diferença. Por causa de Manuel Alegre. Mário Soares sempre teve uma relação muito franca, aberta, cordial, muito terra-a-terra com os jornalistas, mas perdeu o pé nesta última campanha.

Recordo-me da entrevista muito difícil que lhe deu nessa campanha...

[pausa] Sim, foi talvez a entrevista mais desagradável que fiz até hoje. É a entrevista de que guardo as piores recordações. [longa pausa] Quando a entrevista acabou, despedi-me dele [até hoje nunca mais o vi] e chorei baba e ranho, recebi dezenas de telefonemas de pessoas a solidarizarem-se comigo. Foi tão desagradável. Estava tão crispado, tão tenso. Eu percebo porquê. Naqueles dias toda a gente lhe perguntava por Manuel Alegre. Quando ele veio à RTP já tinha passado por tantas entrevistas. Senti-o muito desagradado.

E deve ter sido a décima entrevista que fez a Mário Soares ao longo da sua carreira...

Sim, seguramente. Aliás, tive um programa mensal com Mário Soares durante um ano. Tínhamos uma relação muito simpática. Mas aquilo correu muito mal. Senti-me muito infeliz. Não gosto de entrevistas tensas. O que não quer dizer que não tenha de fazer as perguntas que a minha consciência profissional me obriga. Nunca deixo de fazer uma pergunta importante. Só se não estiver nos meus melhores dias.

Também acontece...

Sim, claro. Às vezes, acontece e há coisas que me passam completamente ao lado.

E apercebe-se disso?

Sim. Saio daqui, meto-me no carro e vou para casa a pensar naquilo que fiz, no que perguntei, no que me responderam, no que eventualmente devia ter perguntado e não perguntei. Penso muito nisso. Porque não basta preparar bem as entrevistas. Mais de 50% das perguntas, dizem os livros, mudam consoante as respostas dos entrevistados.

Consigo também?

Claro que sim. Eu tenho procurado fazer uma grande aprendizagem a esse nível. Durante muitos anos achei que ficava demasiado presa ao questionário que eu própria, previamente, tinha elaborado.

Isso aprende-se continuamente?

Aprende-se se tivermos humildade. E se não acharmos que somos os melhores da nossa rua. Se assim for, estamos permanentemente a aprender.

Mas a Judite não é a melhor da sua rua?

Não.

Isso é modéstia ou é o que acha? É que, ainda por cima, não há muitos na sua rua a fazer o que a Judite faz...

[risos] Nunca alguém me ouvirá dizer que sou a melhor da minha rua. Quero que esse julgamento, a ser feito, o seja pelos críticos e sobretudo pelo público. E que seja medido pelos resultados dos meus programas. Tenho os pés bem assentes na terra. O que é verdade em televisão hoje é mentira amanhã. Quem ganha hoje, perde amanhã.

Há bocadinho dizia que chorou baba e ranho depois da última entrevista com Mário Soares. É muito emotiva? Interioriza muito depois do trabalho acabado?

Completamente.

Chora muito?

[risos] Não, chorar não. Nesse caso aconteceu porque foi muito desgastante e desagradável. Fiquei emocionalmente abalada. Até por razões que envolvem algum fundo pessoal.

É muito cerebral?

Sou aparentemente cerebral e verdadeiramente emocional. Mas também aprendi recentemente com o António Damásio que as pessoas que dizem que são cerebrais não sabem pura e simplesmente o que estão a dizer, porque não há na da na nossa vida nem nos nossos mecanismos cerebrais que não seja fortemente influenciado pelas emoções.

E tem fama de ser muito explosiva, de se irritar facilmente na redacção, de gritar, de ter os seus ódios de estimação, o seu grupo de gente protegida na RTP. Tem consciência disso?

Tenho, mas é mais fama do que proveito [gargalhada]. Tenho 30 anos de RTP em cima e isso confere-me uma grande liberdade. Conheço todas as pessoas como as palmas das minhas mãos. Além disso, sou a primeira a dar o exemplo. Muitas vezes sou a primeira a chegar e a última a sair. As pessoas que são competentes, esforçadas, humildades, que querem aprender e fazer melhor e contribuir com o seu trabalho para o valor da empresa têm em mim uma aliada, uma amiga, uma camarada. Não uma directora adjunta, mas uma amiga a cem por cento. Quem é incompetente e laxista já sabe que não vai ouvir de mim coisas muito simpáticas.

Continua a haver gente dessa na RTP?

Sim, algumas pessoas. Continua a haver, claro. Eu não tenho mentalidade de função pública. E se calhar é isso que explica o meu percurso. Nunca me deixei vencer. Antes pelo contrário. Mas ainda há gente que acha que isto é uma empresa pública e que, portanto, tudo está garantido. Quem não pensa assim tem tudo o que quiser de mim.

Portanto, não tem o seu grupo de jornalistas protegidas, como consta?

Não, não tenho. Tenho muito poucos amigos na RTP. Amigos, amigos. Amigos de casa. Mas sou uma pessoa muito disponível, até porque não utilizo o meu gabinete. Que me recorde, em 30 anos da RTP, sou a única pessoa com um lugar como o meu que não utiliza o gabinete. Acho que isto diz tudo. Quer maior desassombramento do que este? Maior despojamento? Estou sempre na redacção, sento-me ao lado da editora da Política. Escrevo, faço pivôs, faço títulos e se for preciso pego na vassoura e limpo o chão, não tenho problema algum. Agora exerço as funções que me estão incumbidas pelo conselho de administração da empresa. O meu dever de lealdade é com o director de informação que me convidou e com a administração que me nomeou.

Portanto, racionalmente emotiva, exigente, que diz as coisas na cara. E que mais? Que mais se esconde por trás da figura forte que se vê na televisão?

[risos]

É uma mulher insegura...

[pausa] Sou. Q.b. [risos] Sou um bocadinho insegura. Não posso esconder. Tenho as minhas inseguranças.

Sente-se injustiçada às vezes...

Injustiçada? Sinto. A que nível se refere?

Por exemplo, na sua relação com a imprensa...

Sim. Sinto. A minha carreira é algo que me dá muito orgulho. Sinto que tenho feito um percurso profissional sério, honesto, limpo, sem ser levada ao colo por ninguém. E disso orgulho-me. E talvez não haja assim tanta gente que possa orgulhar-se disso [pausa]. Eu tenho orgulho nisso. E acho que não estou a dizer uma coisa tonta [emociona-se].

Portanto...

Acho que a imprensa tem um problema com a RTP. Não é comigo. Eu não sou ninguém. A imprensa, ou pelo menos alguma imprensa, de um modo geral, é muito permissiva e contemporizadora com os insucessos da concorrência e não é tão tolerante relativamente ao que se passa na RTP.

Isso não será natural pelo facto de os insucessos da RTP serem pagos com o dinheiro dos contribuintes?

Não.

Não estou a afirmar, estou a perguntar...

Não, mas não posso aceitar essa possibilidade. Essa não é uma justificação profissional. Não compete aos jornalistas e à imprensa fazer esse tipo de avaliação. Quem tem de o fazer é o mercado, são os decisores políticos, são as muitas entidades que pululam à volta da RTP e que fiscalizam o nosso trabalho (o conselho de opinião, os provedores, a ERC, a Assembleia da República, o Tribunal Constitucional). Onde é que está escrito que a imprensa tem de ser mais exigente em relação à RTP do que em relação à SIC e à TVI?

Durante anos, a Grande Entrevista foi o único programa de entrevistas na televisão generalista. No ano passado, teve as Cartas na Mesa, de Constança Cunha e Sá, na TVI (agora na TVI 24) e este ano tem Mário Crespo Entrevista na SIC, à segunda-feira. Como viu a chegada da concorrência?

Na minha cabeça sempre tive concorrência. Antes de a SIC e da TVI terem colocado programas de entrevista, eu tinha concorrência na minha cabeça. Porque sou muito competitiva comigo própria. Quero sempre fazer melhor. Portanto, vi com muita naturalidade o aparecimento dos programas de que fala. Até estranhei que não tivessem surgido antes.

Um deles já desapareceu da generalista para o cabo...


Sem que a imprensa tenha escrito uma linha sobre isso.

Sem que alguma imprensa tenha escrito uma linha sobre isso...

[risos] Sim. O outro, o do Mário Crespo, não está em concorrência directa com a Grande Entrevista mas está em concorrência directa com outro programa meu, que é um programa de autor moderado por mim, As Notas Soltas de António Vitorino.

Mas porque fez questão de dizer que o Mário Crespo Entrevista não está em concorrência directa com a Grande Entrevista mas em concorrência directa com outro programa seu...

[risos] Porque é diferente. É mais fácil.

É mais fácil concorrer com António Vitorino do que consigo?

Não, concorrer com António Vitorino também é concorrer comigo, entendamo-nos. Um programa de opinião tem outra natureza. Todas as semanas é aquela pessoa, não há surpresa. É sempre a mesma dupla. Há quatro anos que às segundas-feiras na RTP1 estão o António Vitorino e a Judite de Sousa.

O que é que quer dizer com isso?

Apenas o que estou a dizer. Não acha que neste cenário é mais fácil a concorrência poder ganhar do que à quinta-feira, em que os convidados são sempre diferentes?

Não me cabe a mim responder a isso. O que sei é que a opinião de António Vitorino é sempre mais vista do que as entrevistas de Mário Crespo.

E o que quer que eu lhe diga?

Quando arrancou o programa, Mário Crespo colocou a fasquia das suas audiências em um milhão de espectadores. Está com menos de 800 mil, enquanto a Grande Entrevista tem quase um milhão.

É o resultado que o público entende atribuir àquele programa. Não me compete a mim dizer se é um mau ou bom resultado. O problema é quando à partida se fixa uma fasquia.

Nunca teve um programa de entrevistas com nome próprio. Porquê? Acha que não tem estatuto ou é um exercício de narcisismo?

[pausa] Não considero essa uma questão importante.

Qual, a minha questão ou a de ter um programa com o seu nome?

Não, não. A sua é perfeitamente oportuna e pertinente. É uma boa pergunta [risos]. Ter um programa com o meu nome é que não é uma coisa importante para mim. Eu, Judite de Sousa, nunca considerei isso importante e vou continuar a não considerar. Nunca fiz saber a alguém que queria ter um programa com o meu nome. Nunca me pus em bicos de pés na RTP junto de alguém. Mas, atenção, não faço juízos de valor. Acho normalíssimo que haja quem goste de associar o seu nome aos programas.

Seria normal, sendo a Judite de Sousa a Marília Gabriela da televisão portuguesa, querer ter um programa com nome próprio...

Bem, mas isso é o Nuno que o diz, não sou eu. Mas nunca se lembraram. Nunca ocorreu a alguém nesta empresa propor-me isso.

E se ocorrer a alguém, aceita?

Não, não.

Mário Crespo tem.

Sim e eu não tenho nada com isso. Não faço juízos de valor.

A SIC promoveu o Mário Crespo Entrevista com um spot que dizia qualquer coisa como "a entrevista inteligente tem um rosto". O que achou?


Deselegante. Triste. A TVI fez o mesmo. O José Eduardo Moniz disse o mesmo quando lançou a Constança Cunha e Sá. A RTP não faz esse tipo de coisas. Não vê a RTP a fazer esse tipo de considerações sobre a concorrência.

Já que estamos a falar de concorrência... ainda é amiga de José Eduardo Moniz e de Manuela Moura Guedes?

[pausa longa e suspiro] Sabe que as amizades são como as plantas, têm de ser regadas. Há pessoas que eu guardo no meu coração. Há pessoas que irão acompanhar-me até ao resto da vida [voz embargada] por aquilo que representaram para mim. O Zé Eduardo foi a pessoa que mais influenciou a minha carreira. Eu não seria aquilo que sou sem ele. Eu vim para Lisboa convidada por ele. Se não tivesse existido em 1990 um director-geral da RTP chamado José Eduardo Moniz a convidar uma jornalista do Monte da Virgem chamada Judite de Sousa para vir para Lisboa apresentar um jornal que ele, director, apresentava aos sábados, provavelmente a esta hora eu estaria no Porto. Isto são coisas que não se esquecem. Eu sou uma pessoa de memória.

Mas deixaram de ser amigos?

Afastámo-nos nos últimos anos. É público. O meio televisivo é muito cruel. É muito competitivo. Lamentavelmente. Tenho muita dificuldade em perceber isso. A concorrência contaminou a nossa relação. Houve um afastamento progressivo. Encontramo-nos cada vez menos.

De Manuela era mesmo muito amiga...

Sim, sim, amiga de casa. Vi nascer e crescer os filhos da Manuela. A infância e os primeiros anos de adolescência do meu filho foram vividos em casa da Manuela, com o filho mais velho dela. Mas, pronto, é a vida. Não quer dizer que não nos falemos. Ainda no outro dia nos encontrámos no XL, em Lisboa. Cumprimentámo-nos. Tudo bem. Somos pessoas civilizadas. Mas tenho imensa pena de termos perdido o resto.

Em Janeiro, Manuela Moura Guedes, em entrevista, dizia que os políticos só vão onde sabem que são tratados como "entrevistados do regime" e que nas suas entrevistas "ficam sempre imensas coisas por esclarecer"...


Não sei do que ela está a falar quando fala dos entrevistados do regime. Quem me conhece sabe que não sou de estender o tapete vermelho a ninguém. Não sei o que ela quer dizer com isso.

Que opinião tem do Jornal Nacional 6.ª que Manuela Moura Guedes apresenta?

É diferente de tudo aquilo que se faz em Portugal e de quase tudo o que se faz a nível europeu. Tem um estilo próprio que eu respeito, que vejo enquanto espectadora de televisão. É um jornal mais "editorializado" do que os outros.

Isso é um eufemismo para dizer que é um jornal opinativo?

Não sei. Aquele programa configura um determinado modelo de jornalismo.

No qual não se revê?

É um jornal que eu não faria. E que não seria capaz de fazer. O estilo dela é aquele. A Manuela Moura Guedes tem um estilo muito próprio. E tem o seu público. O Jornal Nacional à sexta-feira tem liderado as audiências. Há que assumi-lo sem qualquer tipo de problema. Mas não é o meu estilo.

José Sócrates tem colocado o Jornal Nacional 6.ª como um dos vértices do eixo do mal, como estando alegadamente na origem da campanha negra contra ele. Por aquilo que vê daquele jornal, José Sócrates tem razão?

[pausa]Não lhe vou responder a isso. Não estou na posse de informações ou constatações que o gabinete do primeiro-ministro possa formular sobre jornais televisivos. Mas também lhe digo uma coisa. Nesse aspecto estou de acordo com Thomas Jefferson, um dos fundadores da América: se tivesse de optar entre uma imprensa e uma opinião livre e um governo, optava por uma imprensa e opinião livre.

Portanto, o Jornal Nacional 6.ª é um bom produto jornalístico...

Essa pergunta não tem resposta de sim ou não. Eu não sou jornalista da TVI, não estou na redacção da TVI, não conheço as matérias que a TVI investiga e como investiga.

O que é certo é que todas as sextas-feiras a TVI apresenta factos novos, por exemplo, sobre o caso Freeport. Porque é que a RTP não tem essa informação?

[pausa]A RTP tem noticiado tudo aquilo que tem sido público sobre o caso Freeport. Fomos acusados pelo ministro Santos Silva, de uma forma violentíssima, de termos violado o segredo de justiça. Porque nós abrimos um Telejornal com uma peça de oito minutos, o que é um caso absolutamente excepcional, constituída na íntegra com a carta rogatória dos ingleses. Fomos a primeira estação a ter um enviado em Londres, a jornalista Rita Marrafa de Carvalho, no dia da carta rogatória, que o Diário de Notícias divulgou de manhã.

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