quinta-feira, dezembro 04, 2008

Após o humor Saramago anuncia o pessimismo


Lançamento. 'A Viagem do Elefante' em Lisboa

O Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB) não foi pequeno para as centenas de pessoas que estiveram no lançamento do último livro do Prémio Nobel português, A Viagem do Elefante, ontem ao fim da tarde. O próprio escritor lamentou que o violento mau tempo que antecedeu a cerimónia tivesse feito desanimar pessoas que gostariam de ali ter estado e, como quem não quer a coisa, recordou que no lançamento do mesmo livro em S. Paulo tinha mil pessoas a ouvi-lo.
Mesmo com um número de presenças inferior ao esperado, o editor Zeferino Coelho avisou que José Saramago não assinaria mais do que 200 livros (no Brasil foram 150), quantidade que era manifestamente baixa para a extensa fila de pessoas - mais do dobro - que já se tinham posto ordeiramente no salão à espera do seu autógrafo depois de uma salva de palmas que deu por terminada uma divertida sessão de duas horas.
Saramago esteve igual a si próprio e, apesar da estratégia combinada, na noite anterior, na sua casa, com os apresentadores da obra - António Mega Ferreira e Manuel Maria Carrilho -, o resultado foi bem diferente porque o Nobel não se calou durante 90% do tempo. Nada que importasse à audiência, que ouvia silenciosa e interessadamente as razões por ele apresentadas para estar vivo contra todos os prognósticos e que ria com as justificações para ter feito um livro tão divertido como A Viagem do Elefante. Se alguém pouco acostumado ao Nobel entrasse no auditório teria estranhado algumas das suas afirmações. Entre elas a de que, apesar de não ser medium, desconhece como o livro se materializou; que após a doença se surpreendeu com uma segunda revelação, a de uma linguagem que desaparecera de si há mais de 30/40 anos e a descrição de uma das suas memórias sobre os tempos mais complicados no hospital, de quando viu quatro pontos brancos...
Entre os que marcaram presença esteve o ministro da Cultura, Pinto Ribeiro, que partilhou com a assistência os recados dados por Saramago no que respeita às suas preocupações com a língua portuguesa - que é tão maltratada - e com a ausência de respeito pelos direitos humanos.
Para o final estava reservada uma surpresa quanto ao seu futuro como escritor ao anunciar que o próximo livro iria ser o oposto deste que estava a apresentar. Nada de humor - pelo contrário, será o mais pessimista possível porque "só os pessimistas é que estão preocupados com o estado a que chegou o nosso mundo".

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