quinta-feira, dezembro 04, 2008

Escolas fechadas, pais preocupados e crianças felizes em dia de greve


No Porto, o dia de ontem foi diferente para os mais de 700 alunos da Escola Secundária Fontes Pereira de Melo, com as salas de aula a serem substituídas por centros comerciais e cafés. Neste estabelecimento de ensino localizado na zona da Boavista, em frente ao Estádio do Bessa, a adesão à greve atingiu os 99%. "Apenas compareceram dois professores da parte da manhã e um de tarde", disse ao DN Armando Veiga, vice-presidente do Conselho Executivo. E se a afluência de docentes foi reduzida, a de alunos também. Às 8.15, os poucos estudantes que chegavam à escola já sabiam que a maioria dos professores ia fazer greve. "Vim só porque a minha mãe disse que alguém poderia furar a greve e, nesse caso, eu teria falta. Mas tenho a certeza de que não vou ter aulas", explicou Fábio, a frequentar o 9.º ano. E a previsão confirmou-se: às 8.35 abandonava as instalações da escola na companhia de dois amigos.
Na mesma rua, a cerca de 50 metros, na Escola Secundária Clara de Resende, o cenário repetia-se. "No primeiro tempo apareceram só dois professores", disse ao DN uma funcionária administrativa. "Uma professora de Geografia do 7.º ano, contratada, e um professor de Português do 12.º", explicou.Este estabelecimento de ensino, localizado numa das zonas nobres da cidade, registou um adesão à greve de 96%, disse Maria do Rosário Queirós, vice-presidente do Conselho Executivo. "Até agora [12.40], só se apresentaram para dar aulas dois professores, sendo que no primeiro ciclo a adesão é de 100%", afirmou.

Guarda

O caos no trânsito, provocado pelas longas filas de automóveis de pais que aguardavam para saber se os filhos ficavam nas escolas, obrigou a PSP da Guarda a reforçar as patrulhas em torno das escolas da cidade mais alta. "Já devia estar no emprego, mas se não houver escola, o meu filho fica sem transporte", dizia Marisa Gonçalves, que se preparava para deixar o filho na EB 2/3 de S. Miguel, o maior agrupamento do distrito. Concentrados no exterior, os professores queriam dessa forma demonstrar que estavam na escola "mas em protesto", como afirmou Eduarda Simões, uma das docentes. Na cidade, as escolas da Sé e da Sequeira também fecharam.

Viseu

Os professores da Secundária Alves Martins, que tinham teste marcado com os alunos, compareceram na escola para esse efeito. "Só cá vim para isso, depois vou embora", afirmou Rui Sousa, docente de Geografia e um dos sete professores que nesta escola furaram a greve. Na cidade, a primeira escola a encerrar foi a Infante D. Henrique, onde os professores avisaram de véspera que iam cumprir o protesto. Apesar disso, ao toque de entrada das 8.30, os professores concentraram-se nos portões da escola. Também a EB 2/ 3 do Viso fechou. As secundárias de Viriato e Emídio Navarro encerraram também e no distrito houve escolas a fechar portas um pouco por todo o lado. A excepção foi Mangualde, onde as escolas funcionaram a meio gás.

Braga

Apesar da chuva intensa, centenas de professores concentraram-se durante a manhã em frente às câmaras municipais do distrito de Braga, para protestarem contra as políticas do Ministério da Educação. A adesão dos docentes à greve foi acima dos 90 por cento em todo o distrito, garantiu ao DN a coordenadora de Braga do Sindicato dos Professores do Norte (SPN), Lurdes Veiga.
"Esta foi uma greve diferente e o impacto foi extraordinário", afirmou a sindicalista. Na frase "uma professora em defesa da escola pública num país em liberdade" - Lurdes Veiga resume o espírito com que os docentes estão nesta luta. Segundo a sindicalista, por escola estiveram no máximo três ou quatro professores. Lurdes Veiga concluiu: "Este é um dia histórico para a classe".

Algarve

"Vou aproveitar para estudar em casa, pois tenho teste amanhã [hoje] de Filosofia. Os professores estão a protestar e fazem muito bem, mas isso impossibilita-nos dias de aulas normais", dizia ao DN Teresa Garrocho, estudante do 10.º ano na Secundária Manuel Teixeira Gomes, em Portimão, onde a adesão à greve atingiu os 96 por cento entre os 173 docentes. Perto de uma centena de docentes de várias escolas da cidade concentraram--se junto à câmara municipal em protesto. Entretanto, na secundária de Albufeira só meia dúzia dos 180 professores aderiu à paralisação marcada.

Lisboa

Escolas fechadas ou totalmente paralisadas foi um cenário que também se repetiu em Lisboa. Aqui, como no resto do País, a preocupação ia para o local onde deixar as crianças, já que poucas escolas se responsabilizaram pela sua permanência nas instalações. Pouco passava das 8.30, quando os pais dos alunos da escola Marquesa de Alorna ficaram a saber que não ia haver aulas. "A minha neta vai ficar em casa sozinha", protestava Lurdes Menino, à porta da escola. Sem avós que pudessem ser uma alternativa num dia sem aulas, Maria José Duarte viu--se forçada a levar a filha para o trabalho durante a manhã e a faltar à tarde para ficar em casa. Apesar da grande adesão à greve, na primeira aula da manhã apenas dois dos dez professores fizeram greve. Na Escola Secundária Rainha Dona Leonor, o ambiente era de intervalo sem fim. Os alunos aproveitaram a greve para encher os espaços exteriores com as suas conversas. "É a primeira vez em sete anos que estamos fechados por causa da greve", confessou Maria Margarida Cunha, presidente do Conselho Directivo.

Pausa para... avaliar

Na Secundária com 3.º ciclo Freitas Branco, em Paço de Arcos, a primeira escola visitada pelo secretário-geral da FNE, Dias da Silva, às 09.30 contavam-se 10 professores entre os 58 que deveriam estar presentes, segundo contou ao DN a vice-presidente do conselho executivo, Célia Vieira. Uma taxa de adesão acima dos 80%, muito invulgar nesta escola, sendo que alguns professores "mesmo estando em greve, decidiram vir à escola só para fazerem testes aos alunos, para não os prejudicarem, porque o calendário agora é apertado". Nos corredores e, em menor número, nos pátios, notava-se algum vaivém de estudantes, mas esta professora garantia que a situação estava sob controlo: "Muitos alunos foram avisados de véspera pelos professores e já não vieram. Noutros casos, os pais telefonaram de manhã e tiveram de esperar algum tempo até os avisarmos se os filhos tinham aulas". os que ficaram na escola, sobretudo os mais novos, foram encaminhados para espaços como o "multiusos e a biblioteca". Mas alguns alunos mais velhos iam gerindo os 'furos' com mais liberdade: "Não tive a primeira aula e estive ali à porta à conversa com uma turma do 11.º que vai ter a manhã livre", contou ao DN Vasco Martins, do 11.º C. "Mas, agora, já sei que vou ter Matemática, porque via professora passar de carro".

Plano B

"Boa!". Mariana, de 12 anos, não esconde a satisfação quando se depara com o portão da escola fechado e descobre que não vai ter aulas. Ao lado, António Ribeiro, o pai, tenta disfarçar um sorriso. Às 8.45, a escola EB 2,3 das Piscinas "não tem um único professor" explica o porteiro aos pais que vão chegando. Resignados, os pais accionam o "plano B": Mariana vai passar o dia no ATL. André nem sai do carro e vai directamente para casa da avó, diz a mãe, Carla Carvalhais. Na escola secundária do outro lado da rua também não há uma única aula a decorrer, mas a maior parte dos adolescente prefere ficar na conversa a ir para casa.
Mais complicada é situação de Idalina. À porta da escola primária Paulino Montez, onde estão apenas três dos 14 professores, conta-nos que vai ter de faltar ao trabalho para ficar com as duas filhas. Mas não censura os professores: "Toda a gente tem direito à greve", diz.

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