domingo, outubro 24, 2010

Elevador da Glória faz 125 anos e ainda surpreende



Lisboa

De manhã ajuda a subir e a descer a íngreme calçada de quem vai para o trabalho. À tarde é 'tomado' por turistas e curiosos

"Olhe, se o que desce puxa o que sobe, isto nem precisa de motor, pois não?" A voz era de uma criança de nove anos, mas o conteúdo da pergunta não. Carlos Francisco, guarda-freio no ascensor da Glória, sorriu, olhou para trás e adaptou a resposta ao jovem: "Se fosse assim como é que travávamos?!" Nesse momento, o elevador tinha acabado de iniciar a descida e a criança permanecia imóvel, sem tirar os olhos dos carris.
Apesar de ser véspera da comemoração dos 125 anos, o dia de ontem foi aparentemente normal, neste funicular centenário de Lisboa. De manhã, as viagens com as pessoas do costume, que se deslocam para o trabalho. À tarde, a enchente turística de sempre.
No interior do transporte, vários cartazes anunciavam que hoje haveria brindes para os utilizadores, como forma de celebrar o aniversário. No entanto, o aviso, que passou despercebido à maioria das pessoas, não especificava quais seriam as ofertas.
"Durante a manhã [de ontem], houve só um turista que olhou muito sério para o cartaz e depois disse-me: 125 anos? Então, estou a andar num museu com rodas!", riu-se Celeste Grencho, a primeira mulher guarda-freio do País.
A funcionária da Carris lembra que, apesar de ser importante continuarmos a conservar a tradição nestes elevadores, o País não pode deixar de apostar em novos transportes, como o eléctrico articulado, que também elevam a imagem do País. "Sinto que muitas vezes os turistas ficam de boca aberta, quando chegam cá e vêem que temos uma rede de transportes evoluída", refere Celeste Grencho, salientando que "são muitos os que apontam Portugal como o País europeu com melhor articulação de transportes para turistas".
Há mais de uma centena de anos a ligar a Praça dos Restauradores ao Bairro Alto, o elevador da Glória é, actualmente, um transporte para os habitantes da cidade e um ponto obrigatório para quem visita a capital. Nos últimos anos, o característico transporte lisboeta foi-se adaptando aos novos tempos. Porém, se não conseguiu ainda ser olhado pelos mais novos sem surpresas, também não pôs fim aos hábitos dos mais velhos.
"Os mais velhos, às vezes, abrem a porta e saem em andamento", refere Carlos Francisco, explicando "que sempre que isso acontece fazem-no sem pedir autorização ao guarda-freio, porque sabem que este não deixa".
A viagem das 13.30, de ontem, tinha chegado ao fim, após poucos minutos de descida, a criança - Pedro Dias - continuava a falar sobre a mecânica do ascensor. "Mãe, estou a ver agora o cabo que o senhor disse lá dentro", gritou.
Luísa Rocha sorriu, e, emocionada, explicou, ao DN, que o interesse já era de família: "O meu avô era guarda-freio do eléctrico 28, daí trazer cá o meu filho, às vezes. Sei que ele vibra com isto."

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